O ex-governador do Rio de Janeiro e presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho, acusou o PT fluminense de montar com o PDT um golpe sujo em seu principal reduto eleitoral. O objetivo seria inviabilizar sua candidatura à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006. Garotinho se refere às acusações de compra de votos na eleição de 2004 para o candidato de seu partido à Prefeitura de Campos, Geraldo Pudim. A denúncia levou a juíza Denise Appolinária a tornar inelegíveis, além de Pudim, a governadora Rosinha Garotinho e o próprio ex-governador. A decisão acabou sendo anulada pelo TRE. Na mesma ocasião, a juíza tornou inelegível, pelo mesmo motivo, o ex-prefeito Arnaldo Viana e cassou o prefeito pedetista Carlos Alberto Campista e seu vice, que continuam afastados do cargo. Segundo Garotinho, a eleição local acabou sendo nacionalizada para se transformar numa arena política, onde o alvo a ser abatido era ele próprio.

Garotinho relembrou que durante a campanha estiveram em Campos figuras proeminentes do PT, hoje envolvidas no escândalo do mensalão, como Delúbio Soares, Marcelo Sereno e Sílvio Pereira. Tendo o PT participado ativamente da campanha para eleger o candidato do PDT, seu aliado, apresentando o chamado “kit Delúbio”, que consistia em trazer à cidade shows com artistas famosos. Garotinho relembra que ficou a apenas 400 mil votos da disputa do segundo turno com Lula, e conclui que este seria o motivo que o levou a ser considerado como adversário muito perigoso aos planos do PT de manter-se no poder. “A partir daí montaram um cenário no qual me vi acusado de comprar votos para eleger o candidato do PMDB à Prefeitura de Campos. A farsa foi desmontada com a retratação do homem que me acusava, o ex-candidato a vereador pelo PL em Campos Jocinaldo Elias da Silva, o Naldinho.” Na Justiça, ele se disse induzido a fazer a denúncia por um integrante do PDT que hoje ocupa a administração municipal.

A retratação de Naldinho enfraquece o processo que continua em andamento e, segundo apurou ISTOÉ, já tem parecer do desembargador Maia Pacheco, do
TRE, no sentido de que não existem provas contra o ex-governador e sua mulher. Num depoimento de três horas ao Ministério Público, Naldinho revelou que fora induzido a fazer a denúncia por adversários políticos de Garotinho e que aceitou
uma proposta de emprego e dinheiro por estar sem recursos e com a mulher
acometida de grave doença.

Oferta – A retratação foi feita no dia 25 de maio e somente agora veio à tona porque o processo corria sob segredo de Justiça. ISTOÉ teve acesso a uma cópia do depoimento de Naldinho, que, desempregado e premido por dificuldades financeiras, aceitou a oferta de um emprego como locutor na administração municipal do PDT, feita pelo atual secretário municipal de Comunicações de Campos, Roberto Barbosa. Como condição, teria que conceder uma entrevista à imprensa envolvendo e incriminando Garotinho na prática criminosa da compra de votos em favor do candidato do PMDB.

Ele disse que, tão logo aceitou a proposta do secretário municipal, Barbosa contatou imediatamente o jornal O Globo, do Rio de Janeiro, para que veiculasse a sua denúncia. Ele acrescentou que foi fotografado no apartamento que os jornalistas de O Globo ocupavam no Hotel Antares, de Campos, e sobre a cama do repórteres foram colocados os documentos que supostamente iriam incriminar Anthony Garotinho. Naldinho revelou também ao Ministério Público que as listas com nomes para inscrição no Programa Cheque Cidadão e para recebimento de cestas básicas, que serviriam como moeda de compra de votos para o candidato do PMDB, “não tinham timbre do Estado e haviam sido confeccionadas por ele próprio”. Acrescentou que uma advogada ligada ao secretário municipal Roberto Barbosa, cujo nome não se recorda, ficou com essa documentação, além de possuir outra com intuito de comprometer Garotinho.

Carta – Há três meses, Naldinho escreveu uma carta que foi registrada no cartório do 6º Ofício e divulgada pelo PMDB. No texto, dizia que foi estimulado a dar entrevista e “induzido em erro” (sic), sem dar maiores detalhes sobre como isso aconteceu. Afirma ainda que nada tem contra o PMDB nem contra Garotinho. “Desejo retirar toda e qualquer declaração prestada a respeito da eleição em Campos dos Goytacazes, envolvendo todo e qualquer membro do PMDB, inclusive o ex-governador Anthony Garotinho e sua esposa, Rosinha Garotinho, por não serem verídicas.” Em outro trecho, tenta explicar os motivos que o levaram a essas acusações. “Cumpre-me ainda esclarecer que, passando por problemas de saúde pessoal e de minha família, em momento de desespero, como já foi dito, fui envolvido nesse lamentável episódio”, escreveu então. Naldinho afirma que volta atrás em suas acusações “sem dolo, coação, mas como expressão da verdade”.

Desde o afastamento de Carlos Alberto Campista, a Prefeitura de Campos foi entregue ao presidente da Câmara de Vereadores, Alexandre Mocaiber, do PDT. A cidade vive a expectativa da decisão da Justiça Eleitoral. São freqüentes as manifestações de militantes partidários à frente do Fórum de Campos para reivindicar celeridade no julgamento do caso. O processo está no TRE, sob avaliação do juiz eleitoral Ivan Nunes Ferreira, que é o relator. Seu parecer deve ser anunciado em um mês. Em seguida, o processo será levado aos seis juízes que darão os seus votos. Não há previsão ou limite de prazo para que o tribunal tome a decisão final.

A manobra: a falsa denúncia de compra de votos para o candidato à Prefeitura
de Campos, Geraldo Pudim, levou a Justiça a tornar inelegíveis Pudim, a governadora Rosinha e o próprio Garotinho. A decisão foi anulada pelo TRE