Eles ainda estão lá. Abandonados. Montando pontes improvisadas para fugir do isolamento. Chafurdando na lama. Catando comida no lixo. Enviados especiais registram fa­mílias inteiras se alimentando de barro, porque é o que restou para comer em meio ao cenário de destruição absoluta. Com a demora do auxílio governamental, muitos moradores das áreas atingidas arregaçaram as mangas para tentar resolver a situação ao seu modo. Levantam abrigos entre destroços, nos mesmos locais onde estavam suas casas, hoje condenadas. Fazem ligações clandestinas na precária rede de energia elétrica. O risco de choque e curtos-circuitos é alto. Mas a ameaça a suas vidas está por toda parte para onde olham. São milhares de nordestinos nesse estado de desolação. A água em muitos dos municípios castigados de Alagoas e Pernambuco continua a subir. E o pior ainda pode estar por vir. As chuvas são normalmente mais intensas na região no mês de julho. O que estava debaixo de água e escombros segue escorrendo, tirando o fio de esperança dos que sobreviveram.

A pergunta continua no ar: onde estão os candidatos a comandar o País que ainda não se instalaram de mala e cuia nas localidades mais afetadas para ajudar os desabrigados? O simples gesto de montar QGs de operação ali, compartilhando o drama das vítimas e lutando ao lado delas, faria toda a diferença. Chamaria a atenção geral para uma corrente de solidariedade mais ativa. Deslocaria parte dos holofotes da Copa na direção da ajuda a esses necessitados. Aceleraria o debate de propostas em um esforço conjunto e humanitário por saídas. Na semana passada, os presidenciáveis não se furtaram a aparecer em lugares públicos mostrando-se como fervorosos torcedores do Brasil do futebol. Nem ligavam para o barulho ensurdecedor das “vuvuzelas” a azucrinar seus ouvidos. O que importava era exibir o seu patriotismo no “País de Chuteiras”. Longe dali, não havia o que comemorar. O sofrimento de crianças desnutridas, bucho inchado de vermes, e de seus familiares desamparados, a gritar por socorro, soava apenas como uma imagem distante que teima em incomodar.