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 GREVISTAS OU CRIMINOSOS?
Sindicalistas tomam a reitoria da universidade: desordem e violência

Foi com um pulo de alegria que a estudante de letras Roseleine Bonini, 36 anos, recebeu a notícia de que havia terminado a greve na maior universidade pública do Brasil, a Universidade de São Paulo (USP), na quarta-feira 30. Foram 57 dias de sufoco, em que ela não pôde retirar livros nas bibliotecas em plena época de provas, utilizar os ônibus circulares gratuitos do campus ou comer no restaurante subsidiado, onde faz três refeições ao dia por R$ 1,90 cada uma. Sem falar nas aulas que perdeu porque precisou cuidar das filhas, Alice, 2 anos, e Lana Gaia, 6, já que a creche também foi fechada. Moradora do conjunto residencial, Roseleine também ficou sem linha telefônica e acesso à internet. A estudante, assim como os outros 88,2 mil alunos e 280 crianças das creches, sem falar nos 5,7 mil professores e milhares de pesquisadores, foi a grande prejudicada pela paralisação dos funcionários, a 11ª em 17 anos, num total de 388 dias parados – praticamente dois anos letivos.

A greve dos fun­cionários da USP ultrapassou definitivamente os limites de uma reivindicação sindical na segunda-feira 21, quando um piquete na creche central, que atende 180 filhos de funcionários e estudantes, impediu a entrada das crianças. Bate-boca, policiais militares, palavras de ordem de um carro de som e crianças chorando completaram a atmosfera de campo de guerra. A faixa colocada na portaria pelo sindicato da categoria, o Sintusp (filiado à Coordenação Nacional de Lutas), demarcou mais um prédio sitiado. O da reitoria havia sido invadido no dia 8 de junho e se transformou no quartel-general do comando. Com lenços cobrindo o rosto, eles quebraram portas e vidraças. Uma imagem que descaracteriza a origem nobre do movimento sindical, no qual surgiram nomes como o do presidente Luiz Iná­cio Lula da Silva e o ex-presiden­te da Polônia Lech Walesa.

Os grevistas decidiram encerrar a paralisação por cau­sa das férias de julho, o que enfraqueceria o movimento, já que não conseguiram aumento. “Foi a primeira vez que não se concederam benefícios salariais para terminar a greve”, declarou o reitor, João Grandino Rodas. Ele se refere ao pedido de aumento de 5%, além dos 6,57% que já haviam sido concedidos aos servidores das três universidades paulistas (incluindo Universidade de Campinas e Universidade Estadual Paulista) em maio. A decisão pela greve se deveu à quebra de isonomia nos reajustes com os professores. Os docentes ganharam mais 6%. O comando grevista aceitou encerrar o movimento em troca da restituição dos valores descontados por causa dos dias parados. “Não houve derrota. Duvido que o reitor tenha coragem de dar aumento diferenciado no ano que vem”, rebateu o diretor do Sintusp Magno de Carvalho. Pelo visto, já há outra greve programada.

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