Comportamento

Livros viajantes
Obras deixadas em locais de grande circulação, como metrôs e restaurantes, rodam o mundo nas mãos de ávidos leitores

Verônica Mambrini

 

Alguns livros que aparecem largados em estações de metrô, praças ou cafés não são o que parecem ser: objetos abandonados. Milhares deles foram cuidadosamente "esquecidos" em localidades de diversos países, inclusive o Brasil, graças aos praticantes do bookcrossing, termo em inglês que significa trocar livros. Ao espalharem exemplares em locais públicos, os participantes pretendem transformar o mundo numa grande biblioteca a céu aberto. A professora de inglês Eunira Silva, 50 anos, por exemplo, descobriu esse universo ao buscar na internet obras em inglês com preços mais acessíveis. Acabou caindo no endereço bookcrossing.com e logo estava trocando obras com pessoas de vários países. "Leio uns dez livros por mês, e pelo menos uns quatro são por meio do bookcrossing", diz Eunira, que também "liberta" cerca de cinco livros mensalmente.

Para colocar uma obra em circulação, é preciso se cadastrar no site, registrar o livro e colar uma explicação sobre o projeto na contracapa. "Além de receber, mando para Nova Zelândia, Austrália, Portugal e Macau, por exemplo", conta a professora. Nas suas contas, ela já leu cerca de 450 títulos recebidos pelo sistema e cedeu outros 400.

A rede de troca de livros foi criada em 2001 nos Estados Unidos pelo empresário do Vale do Silício Ron Hornbaker. No Brasil, quem coordena o bookcrossing é a relações-públicas Helena Castelo Branco. "É um movimento literário.

Quem o procura são os amantes da literatura", diz. Um dos propulsores do projeto são as zonas oficiais de bookcrossing, lugares como restaurantes e cafeterias que reservam um espaço para deixar os livros à disposição, todos listados no site. Em São Paulo, o bar Salommão aderiu à idéia e ainda oferece mimos, como um chope, aos clientes que levarem livros para o projeto.

Ações semelhantes chamam a atenção do público. Desde 2003, a escola Fundação Torino, em Minas Gerais, faz anualmente os "Atentados Poéticos", projeto que convida os alunos a libertarem livros – centenas já foram enviados. Neste ano, a rede de postos de gasolina ALE ofereceu espaço em 134 filiais para o projeto, em seis capitais brasileiras, além de doar 6.750 livros. Portanto, se achar um livro por aí, nada de guardá-lo na prateleira. Coloque-o para voar.