Os brasileiros já sabem a esta altura, de cor e salteado, que na História do Brasil as coisas, em geral, nunca aconteceram antes. Mas não é a primeira vez que Alagoas sai de seu canto no Nordeste e irrompe numa campanha presidencial como uma torrente avassaladora.

Desta vez, foi a chuva e seus estragos, reduzindo 90% da cidade de Branquinha a escombros, arrastando quase 60 pontes e arrancando da lavoura uns R$ 100 milhões. Da outra, 21 anos atrás, foi a descoberta de que brotara no ­Estado, do dia para a noite, um governador jovem, valente e façanhudo, que se levantou do berço da oligarquia nordestina para atacar os males da esclerose nacional.

Ele veio de lá comprando briga a torto e a direito. Tinha fôlego de atleta e diploma de caratê. Virou presidente numa eleição em que, zonzos com a profusão de candidatos, promessas, brigas de cabos eleitorais e desaforos em horário gratuito, os jornalistas não tiveram tempo nem pachorra de ir a Alagoas verificar como era mesmo, vista de perto, a terra do caçador de marajás.

Isso só aconteceu depois de Fernando Collor inaugurar em seu governo o primeiro impeachment presidencial da História do Brasil. Ele sim, uma prova de que ultimamente há sempre uma primeira vez na História do Brasil. Mas isso parece ter acontecido há tanto tempo que, no ano passado, Collor subiu no palanque do presidente Lula em Palmeira dos Índios.

Lula, na ocasião, apresentou-se à cidade como o primeiro presidente da República a visitar aqueles cafundós, se não na História do Brasil, pelo menos “desde Juscelino Kubitschek”. E teve a gentileza de excluir da exclusão o senador Fernando Collor. Não só porque o antigo adversário estava naquele momento a seu lado como aliado.

Mas sobretudo porque o ex-presidente, como alagoano, não poderia evitar Palmeira dos Índios, nem se quisesse.
O tema central do discurso de Lula em Alagoas foi o fim do compadrio na vida pública brasileira. Só faltou dizer que, pela primeira vez na História do Brasil, o governo federal não repartia verbas de acordo com as prioridades imemoriais dos partidos governistas ou das confrarias palacianas.

Dito e não feito. Menos de 12 meses depois, os alagoanos pagaram um alto preço para constatar que, este ano, a Bahia do compadre Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Integração Nacional, levou sozinha no primeiro semestre quase 60% do dinheiro reservado no orçamento da União à prevenção de acidentes naturais.

Não que os baianos possam, por isso, cantar vantagem. No total, Brasília só conseguiu gastar até a inundação de Alagoas e Pernambuco menos de 15% de seu estoque contra catástrofes. A conversa de aquecimento global e mudança climática ainda não chegou à boca dos cofres em Brasília.

Nos Estados mais atingidos pelas enxurradas, a pressa de Brasília desabou depois do desastre, prometendo créditos de R$ 1 bilhão do Banco do Brasil e do Banco do Nordeste, saques extraordinários do FGTS, aposentadorias rurais antecipadas e, como não poderia deixar de ser, uma dose extra de Bolsa Família, o elixir milagroso contra chagas sociais.

E estaria tudo como dantes no quintal da política nordestina se Alagoas não fosse Alagoas. Não é a primeira vez que ela oferece aos brasileiros uma chance imperdível de tirar as dúvidas antes de ir às urnas. Em 1989, o eleitorado ganharia muito se pudesse verificar, in loco, como era mesmo a tal caçada de marajás no Estado governado por Collor. Sairia mais barato enviar dezenas de repórteres para lá do que cobrir o impeachment depois. Agora, Alagoas dá ao Brasil a chance de ver que fim teve a extinta praga política do assistencialismo político.

Os céus, em 2010, mandaram aviso prévio.