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HORROR
O grito de pavor da atriz Janet Leigh e o Motel Bates (abaixo)

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Quarenta e cinco segundos foram suficientes para eternizar uma das cenas mais emocionantes – e assustadoras – de toda a história do cinema: o assassinato da personagem Marion Crane na obra-prima “Psicose”. Até quem nunca assistiu ao filme do diretor inglês Alfred Hitchcock (1899-1980) conhece o grito desesperado da atriz Janet Leigh, no papel da doce e vulnerável Marion, pouco antes de ela receber a primeira das oito facadas que tiraram-lhe a vida sob o chuveiro do Motel Bates. Ninguém esquece também a trilha sonora estridente de Bernard Herrmann, que pontua cada golpe desfechado pelo dono do hotel, Norman Bates, esplendidamente interpretado por Anthony Perkins. Essa sequência tornou-se a mais emblemática da obra de ­Hitchcock, aclamado como o mestre do suspense pelos 53 filmes que realizou em 54 anos de carreira. Hitchcock usou 70 posições de câmera para gravar essa cena, que consumiu nada menos do que sete dias de filmagem.

O resultado compensou: com um baixo orçamento de US$ 800 mil, a produção teve um faturamento de US$ 50 milhões. Até agora, quando completa 50 anos em agosto, volta em cartaz nos cinemas e ganha uma edição especial em ­Blu-ray, “Psicose” ainda provoca o mesmo arrepio e o mesmo assombro que arrebataram plateias de meio século atrás.

Muitas curiosidades sobre o clássico foram conhecidas ao longo das décadas. Algumas delas foram reveladas ao cineasta francês François Truffaut na histórica entrevista que virou o livro “Hitchcock Truffaut” (Companhia das Letras), centrada nos bastidores das filmagens: Hitch (esse era seu apelido) não queria música na cena da ducha. Mas Herrmann criou a assustadora trilha que acompanha o assassinato de Marion e só mostrou-a ao diretor quando estava pronta. “Ele ficou fascinado e a música se tornou parte fundamental da cena”, diz Fernando Ferreira, crítico e professor de cinema da PUC do Rio de Janeiro. Nessa sequência, aliás, quem aparece discretamente nua não é Janet Leigh, mas uma modelo contratada apenas para ser sua dublê (“De Janet só vemos as mãos, os ombros e a cabeça”). A personagem é assassinada durante o primeiro terço do longa-metragem, caso raro de rompimento com a narrativa tradicional. É sabido que o diretor inglês tinha como hábito aparecer em algumas cenas de seus filmes. Mas em “Psicose” é particularmente difícil perceber o momento exato em que ele surge na tela. É logo no início da trama, quando Marion volta ao trabalho. O rotundo Hitch mantém-se parado, em pé, na calçada. Aliás, outra curiosidade dessa mesma tomada é a participação de sua filha, Pat ­Hitchcock. Ela encarna a colega de trabalho da protagonista.

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GÊNIO
O ator Anthony Perkins na cena final (no alto) e Hitch com a claquete:
ele comprou todos os livros em que baseou o seu filme para que
o público só soubesse o final da história indo ao cinema
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“Psicose” foi feito em preto e branco por escolha de ­Hitchcock. Ele achava a opção mais adequada para o suspense da história e, com isso, evitava um ­visual muito sangrento que o uso da cor naturalmente acarretaria. O sangue usado não passava de calda de chocolate. O som das facadas, simulando a arma entrando no corpo de Marion, foi produzido por um assistente que, fora do plano, esfaqueava um melão. Mais do que um grande diretor, Hitchcock era um genial artífice do cinema.

A morte do personagem do investigador Arbogast, por exemplo, ocorrida enquanto ele sobe uma escada, ainda hoje desperta curiosidade: como o cineasta teria conseguido mostrar a sua queda, em pleno movimento, depois de ele ser esfaqueado no rosto? Hitch filmou separadamente o ator sentado e movimentando os braços, representando a queda; depois filmou a escada propriamente dita, com a câmera sugerindo uma descida. Parece simples, mas na época foi revolucionário. Como também o foi, com menor expressão, a passagem em que aparece, no banheiro do Motel Bates, um vaso sanitário. Por incrível que pareça, foi a primeira vez na história do cinema americano que essa peça foi mostrada em um filme de Hollywood.


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