Mandrake, o advogado criminalista amante de mulheres, vinhos portugueses e charutos cubanos, é, sem dúvida, a melhor criação de Rubem Fonseca, escritor mineiro há muito radicado no Rio de Janeiro. É nesse herói que as habilidades e conhecimentos de Fonseca, que, entre outras coisas, é formado em direito, foi comissário de polícia e organizou os arquivos do general Golbery do Couto e Silva, se integram à perfeição. Moldado nos private eyes – detetives particulares – de Dashiell Hammett e Raymond Chandler, o advogado convence o leitor ao dar um tom brasileiro a seus acertos e erros, estes de longe mais freqüentes, sem cair na chanchada promovida por Ed Mort, criação de Luis Fernando Verissimo.

O personagem apareceu pela primeira vez em um conto do livro O cobrador (1979)
e voltou mais tarde no romance A grande arte (1983) e na novela E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto (1997). Mandrake – a Bíblia
e a bengala
(Companhia das Letras, 200 págs., R$ 35), que chega às livrarias esta semana, traz duas histórias interligadas desse tipo curioso e onde estão presentes mais uma vez Raul, o policial que inveja abertamente as conquistas amorosas
do amigo, e Weksler (que já apareceu grafado Wexler em outros livros), sócio
de escritório de Mandrake.

Em Mandrake e a Bíblia da Mongúcia, o herói é enredado por uma série de confusões, envolvendo mulheres inacessíveis, livros raros e anões, obsessões de Fonseca, e acaba levando vários tiros na perna direita, graças a uma avaliação errada. A segunda história, Mandrake e a bengala Swaine, remete a esse desfecho. Embora continue avançando em cima de toda mulher que cruze seu caminho – seja casada , deficiente físico ou de idade avançada –, o herói agora manca, andando apoiado em bengalas que variam conforme o dia. A principal delas, a que o título se refere, uma raridade trazendo uma lâmina de aço embutida e fabricada na Inglaterra há mais de 200 anos pela Swaine Adeney Brigg, é a arma utilizada em um assassinato que incrimina diretamente Mandrake. Diversão garantida. Criador e criatura continuam mais afiados do que nunca.


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