O gravador ainda nem foi ligado, mas a cantora carioca Elza Soares já avisa, acomodando-se num sofá de seu camarim, no Festival de Inverno de Bonito, no Mato Grosso do Sul: “Querida, Elza é sempre Elza. Nem adianta perguntar quantos anos eu tenho. Nasci há 24 horas, meu nome é Now!” Tal qual Cauby Peixoto, Ângela Maria e outras estrelas da música popular brasileira, Elza Soares se recusa a revelar a idade. Até porque o tempo não existe para ela. “Tenho alma de menina, gosto de tudo que está na moda. Agora estou numa fase hip hop, não consigo parar de ouvir o 50 Cent”, explica, citando o rapper americano. É com esse espírito de garota sedenta por novidades que se prepara para mais um recomeço. Elza está de mala e cuia, com mudança marcada para a França. A decisão é recente. Foi tomada após o show, com lotação esgotada na Ópera de Paris, nas comemorações do 14 de julho, ocasião em que o Ministério da Cultura francês lhe ofereceu o visto permanente no país. “Aceitei de cara. Faz bem para minha cabeça dar um tempo do Brasil.”

Popular – Para o marido, o rapper Anderson Lugão, 28 anos, o motivo da mudança
é outro. “Elzinha não gosta muito de falar disso, mas é que na França ela foi ovacionada. Fazia muito tempo que não se sentia tão amada pelo público”,
afirma ele. Pena que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em visita oficial ao
país, não tenha comprovado o carinho dos parisienses com os próprios olhos. “Meu presidente é tão popular e perdeu sua principal cantora popular sendo reverenciada pelos franceses”, conclui. Além de Lugão, quem deve acompanhar
a cantora na mudança é o maquiador e fiel escudeiro Eduardo Araúju, 46 anos,
24 deles convividos com a diva do samba. Araúju é o responsável pelo make que destaca os olhos de gata e a pinta acima da boca, marcas registradas de Elza.
“Às vezes eu reforço o delineador nos olhos e o pessoal já pensa que ela fez
mais uma plástica”, brinca.

Elza sonha em encontrar um apartamento em Saint-Germain-des-Prés, bairro mítico de Paris. Mas por ora não abre mão de sua rotina carioca numa casa “linda, cheia de janelas com vista para o mar”, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Nas horas vagas, arrisca incursões gastronômicas – “sou uma cozinheira de mão cheia, meu amor!” –, mantém a forma em sua academia particular e lê poesias da portuguesa Florbela Espanca. E jornais, sempre. Recentemente, ficou irritada com uma reportagem que comparava o tratamento dado à modelo Daniella Cicarelli e sua separação do jogador Ronaldo com aquele de que foi vítima na época de seu casamento conflituoso com o craque Mané Garrincha. “Essa garota é loira, de olhos azuis, veio de uma família de classe média. Eu era uma negra vinda da favela e as pessoas me culpavam pela decadência do Mané”, esclarece. Garrincha é outro assunto proibido. Inclusive porque o casamento de cinco anos com Lugão vai bem, obrigada. “O segredo da minha juventude é amar muito. Quando eu sentir que não posso mais cantar e que não posso mais transar, vou morar num sítio cheio de almofadas de cetim cor-de-rosa e colocar dois índios de cabelos compridos na porta para me proteger”, afirma. Elza é sempre Elza.


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