“Desilusão, desilusão, danço eu, dança você, na dança da solidão…” José Serra, eu sei que você está só. Uma solidão oceânica. Desde que Aécio Neves desistiu da chapa puro-sangue, matreiro como todo mineiro, mais de 20 nomes já foram sondados para ser o seu vice. Ninguém aceitou. O Tasso Jereissati pulou fora, a Kátia Abreu disse que tem mais o que fazer na Confederação Nacional da Agricultura e o Jarbas Vasconcellos, do PMDB que você considera “limpinho”, não tem mais chance. Desista também do Francisco Dornelles. Depois desse último Ibope, o pragmático PP vai fechar com a Dilma. E o Sérgio Guerra, sua reserva técnica dentro do PSDB, foi abatido pelo próprio passado – um vice com uma coleção de fantasmas no gabinete não lhe cairia bem.

Examine as alternativas que sobraram. A vereadora tucana Patrícia Amorim, presidente do Flamengo, é também um nome inviável. Como se sentiriam os milhões de vascaínos e botafoguenses? A tal Valéria Pires, chamada dentro do PSDB de solução “Sarah Palin”, também não emplaca. Ter sido ex-vice governadora do Pará não é lá um grande currículo, concorda? Aliás, o que significa ser “ex-vice”? Bom, mas
há ainda o deputado José Carlos Aleluia. Esqueça. Ele seria motivo de piada no próprio dia do casamento – “aleluia, aleluia, aleluia”.

Talvez, Serra, o melhor vice na chapa tucana fosse você mesmo. Vice do Aécio, por que não? E esse seria o resultado das primárias internas do PSDB, caso elas tivessem sido realizadas. Mas ­agora já não dá mais tempo. E nem pense em chamar o ex-presidente Fernando Henrique, porque ele também já começou a abandonar o barco. Essa debandada tem uma explicação: qual é a sua bandeira, candidato? O Brasil, que cresceu 11% no primeiro trimestre, pode mais? Como? De que maneira? Controlar o Banco ­Central e subordiná-lo ao ministro da Fazenda, que, na prática, seria o próprio presidente da República, em caso de vitória sua, não parece ser o melhor caminho.

E o risco, com esse tipo de proposta, é afastar de sua campanha boa parte do empresariado.
Pensando bem, Serra, acho que até eu vou retirar minha candidatura a vice. A água já entrou na canoa, começou a subir, e eu não sou lá um grande nadador – neste caso, é melhor ficar com a Patrícia Amorim. Quer uma sugestão? Chame o Dunga. Ganhando ou perdendo a Copa, o treinador estará sem emprego dentro de algumas semanas. Só não deixe ele falar muito, pois o risco é perder o que lhe resta de apoio. Se nada disso funcionar, vá então de Álvaro Dias.