No dialeto hindi, usado na novela Caminho das Índias, a exclamação atcha! expressa satisfação, concordância, descontentamento e espanto. São tantos usos para uma mesma palavra que a confusão é inevitável. Em tese, a repetição ajudaria o entendimento, mas, há quase dois meses no ar, a trama ainda não conseguiu ativar a memória do telespectador: ele reclama não só da falta de clareza como do excesso de termos estrangeiros nos diálogos – e isso estaria se refletindo na audiência do folhetim de Glória Perez. Em janeiro, a novela estrelada por Juliana Paes e Márcio Garcia registrou o pior desempenho do horário nobre, uma média de 34,5 pontos no Ibope. Como se nada estivesse acontecendo, a Rede Globo nega qualquer mudança nesse sentido. Mas as palavras em hindi e em sânscrito, outro idioma utilizado nas cenas indianas, já começaram a escassear dos capítulos. O uso de legendas teria sido cogitado, hipótese igualmente negada pela emissora.

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ENTENDEU? Juliana chama Garcia de djan, mas seu nome é Bahuan 

"Não existe essa possibilidade", afirma sua assessoria.

Além dos espectadores, sofrem os atores, que têm trabalho dobrado: eles decoram o termo e fazem sua tradução simultânea, explicando o significado em bom português. Mas muitas expressões continuam simplesmente sendo "jogadas ao vento".

Não bastasse a necessidade de um glossário, os nomes dos personagens do núcleo indiano não ajudam, reclamação feita pelo noveleiro paulista Nilton dos Santos, desenhista de 40 anos. A matriarca vivida por Laura Cardoso, por exemplo, chamase Laksmi. "Só memorizei os nomes dos protagonistas, Maya e Bahuan", diz ele. Segundo a historiadora Silvia Oroz, em O clone (2001), da mesma Glória, as palavras árabes apareciam em situações muito específicas.

Por isso, o termo insch’Alla (Se Deus quiser), acabou caindo na boca do povo. Esse tipo de rejeição não é novo.

Há quatro anos, a novela Bang Bang abusou de expressões e nomes de personagens americanizados. Foi um fracasso. O pesquisador da Universidade de São Paulo Claudino Mayer explica que a tradução simultânea não ajuda porque quebra o ritmo do texto. Às vezes nem dá para perceber que se trata de uma explicação. "Eu, que sou estudioso da teledramaturgia, fico confuso e perco o fio da meada. Imagine o telespectador comum", diz Mayer. Arebaguandi!

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