No caso, a brasileira Lena Lavinas e o americano Michael Storper, que, juntos, tropeçaram no problema lá pelo fim da década de 1990, ao estudar as barreiras que empacam o artesanato nordestino no caminho das lojas da rede Ikea e de outros grandes importadores da manufatura globalizada. À procura de respostas para um banco de fomento regional, a dupla mergulhou fundo na vida comunitária de aldeias mexicanas, de onde saem, aos contêineres, as peças artesanais de vidro, barro e ferro batido para o mercado mundial de decoração e design. A pesquisa investigou praças públicas varridas pela população e banheiros públicos modestos, mas asseados, mantidos voluntariamente pelo decoro coletivo e por orgulho cívico até nas mais remotas cidades do México.

E concluiu que essas virtudes comunitárias eram indissociáveis dos mecanismos espontâneos que levavam artesãos independentes, trabalhando em casa, a cumprir os prazos e a padronizar os estilos requeridos pelo comércio internacional, simplesmente por estarem habituados a colaborar uns com os outros na vida cotidiana.

O Nordeste brasileiro tinha os artesãos e os produtos, mas lhe faltavam ambientes propícios à partilha de encomendas volumosas entre fabriquetas domésticas. Onde cada um se vira como pode e todo mundo compete entre si, não haveria clima para dividir tarefas e acertar informalmente as cores de um copo, para produzi-lo em quantidades industriais.

Só com uma autoridade, para mandar as famílias se juntarem em torno de interesses comuns. Mas isso também o País não tem de sobra.

E assim rendeiras, poteiros e entalhadores acabam enclausurados em feiras locais ou, no máximo, no varejo bissexto dos balcões de artesanato, duas fontes tradicionais de dinheiro curto e pingado.

Tudo porque a civilização brasileira ainda não reconheceu o acesso ao banheiro limpo como um direito mais ou menos universal.

Estamos ainda em outra fase. A dos blocos que, até o fim da semana passada, quebraram 166 banheiros químicos, espalhados pela prefeitura nas ruas do Rio de Janeiro. Ao todo, um quinto dos 821 cubículos portáteis acabou o Carnaval de ressaca. "Não adianta ter banheiro, se não tiver educação", queixou-se o secretário de Turismo, Antonio Pedro Figueira de Melo.

Pelos cálculos do secretário, o saldo da semana de festa, no quesito sanitário, somou desde "banheiro completamente acabado a banheiro que ficou sem porta". Mas foi "positivo", além de expressar da maneira mais alegre possível o direito a resolver essas questões a céu aberto, em plantas, postes, fachadas ou bueiros, mictórios já consagrados pelos costumes cariocas.

Negativo mesmo, no fim das contas, é o balanço do artesão nordestino. Mas, em tempos de samba-enredo, quem está aí para ouvir um papo de economista que só circula hoje, em inglês, na internet?