Entrar na exposição Repeat all, no MIS, é como entrar num cinema multiplex e ver todos os filmes ao mesmo tempo. São 14 "filmes" realizados por videoartistas de 11 países, que trabalham com o recurso do loop, ou seja, com sucessivas repetições de um mesmo vídeo. Substantivo masculino da língua inglesa, a palavra loop, em informática, é usada para designar um procedimento ou um conjunto de instruções executadas repetidamente, até que um programa seja concluído. Apropriado pelo léxico da videoarte, o loop indica a temporalidade contínua das narrativas circulares. Quando um vídeo é construído em loop, dificilmente identifica-se o padrão "começo, meio e fim", característico da tradição cinematográfica. Por isso, é o principal recurso das videoinstalações montadas em espaços expositivos.

Com curadoria do crítico suíço Sigismond de Vajay, o objetivo dessa exposição é mostrar a possibilidade de se fazer documentários, animações, videoclipes, videoperformances, obras de ficção ou trabalhos experimentais a partir dessas operações de repetição. Embora essa possibilidade seja efetivamente real, ocorre que as obras selecionadas nem sempre apresentam narrativas circulares.

Há várias situações em que se apresenta um discurso articulado com começo, meio e fim. Esse é o caso, por exemplo, de Tactical disorder, do espanhol Alejandro Vidal; do documentário La visita, de Santiago Sierra, e da belíssima obra performática Disco, da dupla Muntean/Rosenblum, que produz uma versão contemporânea e videográfica da pintura A balsa da Medusa, de Théodore Géricault. Em qualquer um destes casos, fica claro que a sinuosidade narrativa não foi uma questão do artista no momento da realização da obra, mas sim do curador no momento da montagem da exposição.

Entre os pontos altos da mostra está o vídeo Carabanchel Sound System, do coletivo Democracia, e a videoinstalação sonora Em andamento, da dupla de artistas brasileiros Gisela Motta e Leandro Lima, cuja temporalidade é regida não por um padrão narrativo, mas por ritmos musicais. Nessa obra, o desenho de uma onda sonora reconfigura fotografias de paisagens. Mais que abordar o loop, a exposição consegue, afinal, expor as tensões que envolvem essas duas formas narrativas: linear e circular. Um conflito que reflete o embate vivido entre o vídeo e o cinema neste começo de século.

Roteiros
Conexões do design
Rico Lins : um a gráfica de fron teira/ Caixa Cultural, RJ/ até 15/3

Uma reflexão sobre o design gráfico e suas articulações é a proposta desta exposição. Para isso, evitou-se usar as paredes como "suportes para portfólio" e, juntos, o designer paulistano Rico Lins e o curador Agnaldo Farias procuraram uma maior interação com o público. Nesta retrospectiva, cartazes, capas de livros, discos e publicidades em revistas são organizados de forma a transformar o espaço de exposição numa grande instalação, na qual o visitante pode reconhecer referências visuais das últimas três décadas. "O design é fruto direto do contexto cultural, tecnológico e mercadológico e, por tangenciar tantas áreas criativas, tem uma capacidade ímpar de envolver o espectador", diz o artista, que começou a carreira no início dos anos 1980.

Não é difícil perceber que nosso repertório visual deve muito aos designers e a exposição reflete essa influência direta que recebemos das produções gráficas. Atente-se, no entanto, para o fato de muitos dos trabalhos expostos trazerem algo cada vez menos óbvio nos produtos de design hoje: a ausência de recursos digitais. "Comecei a perceber que, sem estes recursos disponíveis, surge a necessidade de buscar soluções criativas, descobrindo significados novos, originais. Não é uma atitude saudosista. O problema não é dos recursos digitais, mas do desconhecimento de outras opções", diz o designer, que durante a exposição ministra um workshop de produção gráfica sem uso de ferramentas digitais.
Fernanda Assef