Manoel da Silva é morador de rua em São Paulo. Luciane Jabur Mouchaloite Figueiredo é juíza do Departamento de Inquéritos Policiais e Corregedoria da Polícia Judicária. Silva morava numa praça do elegante bairro paulistano de Vila Nova Conceição. Em meio às reclamações dos com-teto que pagam até R$ 5 milhões pelos apartamentos das cercanias da praça, o sem-teto foi internado num hospital psiquiátrico. Teve alta porque não é doente mental, não põe em risco a sua vida nem a vida dos outros. Foi então despejado num abrigo, mas lá não quis ficar porque ele acha mais graça e mais confortável viver entre o chão da praça e o céu da Nova Conceição – gosto que os proprietários dos apês de R$ 5 milhões compartilham com ele. O caso foi parar nas mãos da juíza Luciane e ela fez valer para o mendigo a Constituição do Brasil – concedeu-lhe habeas corpus para que ande e more onde quiser. Tão importante quanto o salvo-conduto no bolso é o salvo-conduto na alma do pobre. Os “donos” do bairro tocaram o mendigo de lá porque ele cheirava mal. Com o mendigo de volta, agora é que a praça cheira bem. Cheira a cidadania com a decisão da juíza Luciane.