Todo mundo está cansado de saber que aqueles que esquecem o passado estão condenados a repeti-lo, como dizia o filósofo hispano-americano George Santayana (1863-1952). A elite política brasileira, no entanto, parece insistir em seguir os passos desastrosos da dinastia Bourbon, escorraçada do poder pela Revolução Francesa de 1789: não perdoa e não aprende.

Em 1992, o mais famoso tesoureiro político do País, Paulo César Farias, o PC, definiu como pura hipocrisia a reação dos parlamentares que demonstraram espanto diante de suas revelações a respeito do caixa 2 das campanhas eleitorais. Os brasileiros, então, assistiram perplexos a uma sucessão de escândalos que levaram ao impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Apesar da crise, as instituições foram preservadas e reinou a sensação de que a democracia se fortalecia no País. Ao Congresso ficou a lição de que era preciso mudanças urgentes para evitar que as faturas não declaradas das campanhas políticas voltassem a ser saldadas com o dinheiro público. Nesses últimos 13 anos, o Brasil passou por três eleições presidenciais e outras tantas municipais. Muitos daqueles que se mostraram espantados diante das revelações sobre o chamado esquema PC – e que efetivamente contribuíram para que ele fosse desmascarado – assumiram postos no Executivo. As lições, como se vê agora, diante de mensalões, Delúbios e companhia, não foram aprendidas. Ao brasileiro comum fica a desilusão. Sentimento que, como bem diz a historiadora Maria Aparecida Aquino, em entrevista publicada à pág. 49 desta edição, pode fazer com que tenhamos de esperar uma ou duas gerações para termos novas expectativas. A reversão desse quadro depende, em boa parte, da ação de nossos congressistas.

Claro que deputados e senadores têm que se somar ao Ministério Público e à Polícia Federal na missão de descobrir e punir os responsáveis pela lama que afoga a Nação. Mas não basta tirar direitos políticos de um punhado de autoridades e nem mesmo mandar para a prisão alguns desses envolvidos. O Brasil quer mais. E o Congresso não pode se furtar de sua tarefa mais básica: legislar. A mesma energia canalizada para desconstruir o propinoduto montado às barbas do presidente Lula deve ser destinada a uma efetiva reforma política, que considere os erros do passado e nos livre de repeti-los no futuro. Afinal, insistir nos erros pode não ser apenas burrice, mas também má intenção.