Mestre dos baixos orçamentos, o texano Robert Rodriguez, 38 anos, é a figura do momento em Hollywood. Pai de quatro filhos – Rocket (foguete), Racer (corredor), Rebel (rebelde) e Rogue (trapaceiro), o diretor já escolheu o nome da menina, Raven (devoradora), prevista para o final do ano. Exótico nas escolhas, 13 anos depois de emplacar El mariachi, que custou US$ 7 mil e o tornou conhecido em todo o mundo, tomou de assalto as telas com Sin city – a cidade do pecado (Sin city, Estados Unidos, 2005), que estréia no Brasil na sexta-feira 29, após ter faturado quase o dobro do custo de US$ 45 milhões, garantindo assim sua seqüência, já em pré-produção. Além do elenco estelar, o charme do filme está na adaptação literal das histórias em quadrinhos do co-diretor Frank Miller e na participação de Quentin Tarantino, velho amigo de Rodriguez, como diretor convidado.

Sin city é chacina, pecado, sexo e violência em doses cavalares, histórias
tiradas de álbuns de Miller – saíram pela Editora Devir A cidade do pecado
(208 págs., R$ 39,90) e o recentíssimo A grande matança (192 págs., R$ 39,90);
o terceiro deles, A dama fatal (208 págs., R$ 39,90), será a espinha dorsal do segundo filme. Tudo se passa na fictícia Basin City, mais precisamente ao redor
da zona de meretrício ultrabarra-pesada da cidade. Administrada e protegida por prostitutas belíssimas e perigosas como Gail (Rosario Dawson), Miho (Devon Aoki), Becky (Alexis Bledel) e Nancy (Jessica Alba), o território é uma praça de guerra co-habitada por marginais como Marv (Mickey Rourke), Jackieboy (Benicio del Toro), Kevin (Elijah Wood), por pretensos justiceiros do tipo de Dwight (Clive Owen) e O Homem (Josh Hartnett) e até por tiras como Manute (Michael Clarke Duncan), Lucille (Carla Gugino) e Harrigan (Bruce Willis).

Efeitos – Do México, onde estava divulgando Sin city e o épico infantil Sharkboy e Lava-girl em 3-D, com argumento do filho Racer, oito anos, em cartaz nacional, Robert Rodriguez falou a ISTOÉ por telefone. Explicou que, devido à fotografia em preto-e-branco de alto contraste, praticamente sem cinza, para se chegar ao efeito desejado tinha que escolher o quadrinho certo, decupá-lo e determinar a iluminação ideal. Os atores foram filmados contra uma tela verde, separados do fundo e às vezes até uns dos outros para se conseguir determinados efeitos. A insistência em creditar Miller como co-diretor, o obrigou a se desligar do Director’s Guild of America, associação oficial de diretores, como já havia feito em 2002 diante do Writer’s Guild, dos roteiristas. Rodriguez exigiu que Miller embarcasse como co-diretor porque esse seria o único modo de se fazer um filme autêntico baseado em seus livros. E acredita que ele é naturalmente um diretor. “Basta ver seus quadrinhos”, desafia.

Na mesma situação “marginal” de Rodriguez encontram-se nada menos que
George Lucas e o amigo Quentin Tarantino. Quanto a Lucas, o texano diz que
admira sua posição fora de Hollywood. Mas o que pretende não é construir outro império e sim um território no qual diretores e artistas possam criar filmes e não apenas negócios. Não está longe disso. Um drinque no inferno e a série Pequenos espiões garantiram-lhe fortunas e o reconhecimento da crítica. Diretor, roteirista, músico, especialista em efeitos e dono do corte final de seus longas, Rodriguez se deu ao luxo de convidar Tarantino para dirigir duas cenas de Sin city para que este
se habituasse com o que há de mais moderno em tecnologia. O dedo do amigo é evidente nas cenas em que uma dupla de pistoleiros começa a divagar por
assuntos sem importância. Parece Samuel Jackson e John Travolta conversando
por horas em Pulp fiction – tempo de violência.