Recostado em um sofá no camarim do Teatro Cultura Artística, em São Paulo, Antonio Fagundes faz um pedido banal: “Você se importa se eu fumar o meu charuto enquanto a gente conversa?” Mesmo despojado da máscara de tantos personagens, é possível enxergar nos gestos meticulosos do fumante a desenvoltura de Felipe Barreto, o médico sedutor da novela O dono do mundo, de 1991, um de seus grandes papéis televisivos. No que diz respeito ao Vegas Robaina, seu cubano preferido, o cheiro não chega a incomodar. “É suave. Quase ninguém reclama. Quase…”, brinca. Há motivos para o bom humor. Depois de dois anos afastado dos palcos, o ator de 56 anos está de volta com a peça As mulheres da minha vida, do americano Neil Simon. No espetáculo, uma deliciosa comédia romântica, ele interpreta George, um escritor sensível que vive cercado de mulheres. “As relações estão em crise, porque o homem quer rever seu papel e buscar sua sensibilidade. Mas não sabe como.”

ISTOÉ – George é um homem sensível, marcado pela presença feminina. Acredita que o comportamento masculino mudou nesses anos?
Antonio Fagundes
– Somos educados para preservar nosso espaço, mas da década de 70 para cá esse espaço vem sendo ocupado por uma nova mulher. Antes, o homem era o provedor, chegava do trabalho e a esposa estava em casa esperando. As relações pessoais estão em crise, porque o homem quer rever seu papel. Ele sente necessidade de buscar sua sensibilidade, mas não sabe como, e a mulher quer se afirmar, mas também não sabe como se relacionar com esse novo homem.

ISTOÉ – Esse novo homem é o metrossexual?
Fagundes
– Está certo o cara ser sensível, mas não precisa exagerar! Gosto de imaginar que a pessoa tem que estar cheirosinha, cortar seu cabelo, deixar a barba aparadinha, mas não precisa tirar a sobrancelha, fazer a unha, passar cremes…

ISTOÉ – Você é vaidoso?
Fagundes
– Tenho a vaidade dos meus papéis. Se é um gordo, eu engordo, se é um velho, eu envelheço. No filme inédito Achados e perdidos, senti que o personagem era um pouco decadente e coloquei umas verrugas no rosto. Fiquei acabado.

ISTOÉ – Seu personagem diz que um caso extraconjugal de três semanas
não configura um adultério. Você acredita em relacionamento aberto?
Fagundes
– Acho que tudo tem de ser combinado. O casamento nada mais é que uma sociedade. Tem até contrato. Se você é masoquista e o cara com quem você casou é sádico, tem que bater todo dia, senão não vale.

ISTOÉ – Você já fez campanhas para o Lula e se declarou petista…
Fagundes
– Eu não sou petista. Eu voto no PT.

ISTOÉ – Então, como eleitor do PT, como você vê os escândalos
envolvendo o partido?
Fagundes
– Desde a fundação, ninguém nunca tinha ouvido falar de corrupção
e maracutaia no PT. Era um partido pautado pela ética e integridade dos seus membros. Talvez o que tenha maculado o PT seja esse contato maior com o
poder. A corrupção não é exclusividade dele. Nós sabemos que o PSDB viveu
esse problema nos anos do FHC, que houve uma CPI da corrupção na época
do Sarney e com o Collor aconteceu o que aconteceu.

ISTOÉ – A corrupção está enraizada na política brasileira?
Fagundes
– O poder no Brasil é corrupto. Um governo que queira erradicar a corrupção de um dia para o outro talvez tenha que fechar as portas. O número
de corruptos que nós vemos por aí é muito grande. Como é que pode um cara
que não tem nem expressão política, um Marcos Valério… Quem é esse cara?
Talvez a gente deva usar essa triste experiência não para destruir um partido
com uma história íntegra, mas para entender a máquina governamental.

ISTOÉ – Você votaria no Lula novamente?
Fagundes
– Votaria. É a escolha entre o menos mal e o pior. Nós sabemos
que existe coisa bem pior do que o PT.