Os primeiros minutos da sessão da CPI do Banestado, na terça-feira 14, impressionaram. O deputado relator José Mentor (PT-SP) apresentou seu trabalho final: um calhamaço de 741 páginas, equivalente a duas listas telefônicas, acompanhado de um anexo com tabelas e documentos de 771 páginas. Mas o efeito durou pouco. Das 91 pessoas indiciadas por crimes contra o sistema financeiro, sonegação, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e corrupção ativa, poucas são conhecidas do grande público, como Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, e Celso Pitta, ex-prefeito de São Paulo. O restante, em sua grande maioria, é formado por dezenas de doleiros, vários já presos em consequência da operação Farol da Colina, da PF, e pela diretoria do Banestado, o banco do Estado do Paraná fechado em 1999 pelo Banco Central.

Do lado do governo, ficaram de fora da lista de indiciamentos, entre outros, o atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o ex-diretor de política monetária do banco Luiz Augusto Candiota, o ex-presidente do Banco do Brasil Cássio Casseb, além de simpatizantes do governo petista, como o ex-prefeito Paulo Maluf e o ex-presidente da Transbrasil Antônio Celso Cipriani. No caso de Meirelles, Candiota e Casseb, Mentor acolhe integralmente as explicações e isenta os três. Do lado tucano, a lista reluzente inclui o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira e várias de suas empresas e sócios, o chefão do crime organizado em Mato Grosso, o “comendador” João Arcanjo Ribeiro, já preso no Uruguai, e o ex-diretor do BC Beni Parnes, entre outros. As citações são até mais duras, mas indiciamento, nenhum. A situação era mesmo incômoda para todos os lados. Para isentar gente do governo flagrada com dinheiro transitando por contas de doleiros, o relator não tinha como apertar a turma do governo FHC descoberta em situação idêntica. Para os tucanos, valeu a mesma lógica. Assim, produziu-se a pizza. Senadores que leram o relatório com lupa estão convencidos de que trechos inteiros foram suprimidos.

O acordão entre os governos Lula e FHC emergiu nos últimos dias de vida da Comissão. Os 18 meses de duração da CPI foram marcados por uma guerra entre o PT e o PSDB, espelhada nas péssimas relações entre Mentor e o presidente da comissão, o senador tucano Antero Paes de Barros (MT), mas no final prevaleceram justificativas variadas para não aprofundar as investigações. O recurso mais usado foi o da falta de tempo ou informações necessárias à conclusão do trabalho. Jogou-se no colo do Ministério Público a continuidade das investigações, o que de fato já vem sendo feito. Boa parte da montanha de papel em poder da CPI também está nas mãos dos procuradores.

O jogo de cena ainda continuará nos próximos dias. O PSDB afirma que vai apresentar outra versão ao texto de Mentor, onde alivia Gustavo Franco e afunda a mão nas operações financeiras de Meirelles, Casseb e Candiota. Mas o prazo é curto. Quaisquer modificações no texto, se aceitas pelo relator, têm que ser votadas até a terça-feira 21.