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De longe, o Centro Internacional de Transmissão (IBC) da Copa do Mundo da África do Sul, em Johannesburgo, parece mais um conjunto de galpões abandonados. Responsável por enviar todas as imagens deste Mundial para mais de 200 países, ele foi instalado próximo ao Soccer City, o estádio da abertura e também da final da Copa, em uma área na qual a poeira que vem das antigas minas de ouro e diamante deixa tudo com uma coloração avermelhada. O cenário rústico, reforçado pelas ruas sem calçamento e pela grama que não conseguiu vingar por conta do frio, contrasta com o que o IBC, na sigla em inglês, guarda em seus 30 mil metros quadrados.

Nas salas, que mais se assemelham a contêineres de navios, está instalado o que há de mais novo, moderno e caro no mundo da televisão: mesas de edição digitais de última geração, salas de som que criam os efeitos surround ao vivo – enquanto o jogo está acontecendo –, câmeras de alta definição e um sistema de servidores de computador que é capaz de transferir e receber mais de 400 arquivos de vídeo e áudio por segundo. Só de cabos de energia para alimentar toda essa parafernália são 91 quilômetros, abastecidos por 16 geradores que consomem dois mil litros de óleo diesel a cada hora. No lado de fora, em uma espécie de quintal empoeirado do IBC, dezenas de satélites enviam milhões de dados por minuto para 240 cadeias de televisão dos cinco continentes, além dos sinais de outras 180, de 70 países, que decidiram instalar-se na África do Sul.

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CÉREBRO
O IBC, em Johannesburgo, envia as imagens
da Copa para 240 redes de tevê

Todos esses equipamentos, avaliados em centenas de milhões de dólares, estão ali com uma única função: receber e retransmitir as imagens e os sons de tudo o que acontece nos dez estádios sul-africanos onde ocorrem as partidas do Mundial. “É uma operação minuciosa, na qual nada, mas absolutamente nada, pode dar errado. Precisamos ter a certeza de que estamos oferecendo o que há de melhor em transmissão de futebol”, diz Olivier Meaux, diretor de produção do IBC e responsável para que tudo corra bem nessa babel televisiva.

O IBC é o cérebro das transmissões que correm o mundo mostrando as jogadas, os dribles e os gols desta Copa. Mas é nos estádios que está o coração da gigantesca operação, que envolve mais de dois mil técnicos, engenheiros, jornalistas e profissionais especializados em cobertura esportiva de todo o mundo. Em cada um deles estão instaladas, em média, 30 câmeras de alta definição para não deixar escapar nada do que acontece nos 90 minutos de cada jogo. Existem aquelas dedicadas apenas a captar as expressões dos técnicos durante toda a partida. Outras têm como função filmar apenas um jogador, independentemente do que ele fizer. “Em geral escolhemos os artilheiros ou aqueles que têm mais destaque”, diz Meaux. “Nossa câmera não sai dele um segundo, não importa o que está acontecendo.”
A grande novidade desta Copa do Mundo são as chamadas ultramotion cameras, responsáveis pelos fantásticos efeitos em câmera lenta que tanto encantam os telespectadores. Instaladas nas linhas de fundo, elas são capazes de registrar até 700 imagens a cada segundo em alta definição. A título de comparação, basta lembrar que uma câmera normal, que registra o movimento sem reduzir a velocidade, capta entre 25 e 30 imagens por segundo. Em cada estádio há duas delas, dedicadas apenas a registrar close-ups das jogadas, como os pés, a bola ou o rosto dos jogadores.

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Na parte externa de cada um dos palcos da Copa, um caminhão com todos os equipamentos de edição recebe as imagens das dezenas de câmeras que estão filmando o jogo. É dali que os diretores decidem quais imagens serão enviadas para o mundo. A HBS, empresa contratada pela Fifa para fazer todo o trabalho de captação e transmissão das imagens, contratou sete dos profissionais mais renomados do mundo esportivo. Os diretores, três franceses, dois alemães e dois ingleses, compõem o que a Fifa gosta de chamar de “time dos sonhos”. “Não há ninguém melhor do que eles no mundo”, diz Meaux. São eles quem comandam o trabalho dos câmeras e dos editores.

Todas as imagens selecionadas pelos diretores seguem para o IBC por cabos de fibras ópticas especiais. Ao todo foram instalados sete mil quilômetros deles em todo o país para ligar os estádios ao centro de transmissão. Outros quase dois mil quilômetros de fibras ópticas estão dentro dos dez estádios. Se problemas acontecerem, a HBS ainda tem um satélite dedicado em cada uma das arenas para enviar as imagens e os sons para o IBC.

Todo esse material chega em tempo real às emissoras que detêm os direitos de transmissão no Brasil. Consultadas por ISTOÉ, as redes Globo e Bandeirantes e o SporTV afirmam que não interferem nas imagens oficiais enquanto o jogo está rolando. Contudo, cada uma delas acaba acrescentando sua própria personalidade durante os intervalos e depois de cada partida. No caso da Rede Globo, esse é o momento em que a “Central da Copa” vai ao ar. Apresentadores como Tiago Leifert e Luís Ernesto Lacombe discorrem sobre tira-teimas e interagem com o que aparece na tevê por meio de um telão que exibe estatísticas e informações sobre as seleções que estão em campo. O canal por assinatura SporTV também recorre à alta tecnologia e conta com um software especial, o analisador tático Piero, que utiliza efeitos gráficos para dissecar os principais lances do jogo.

Nem a Fifa nem a HBS revelam o valor do investimento para a transmissão da Copa do Mundo da África do Sul. Mas ele não foi baixo. E razões para isso não faltam. Mais de 60% da receita de cerca de US$ 1 bilhão da Fifa em 2009 foi proveniente do pagamento de direitos de exibição dos seus eventos. Hoje, as transmissões esportivas são quase a razão de ser da maior e mais poderosa entidade esportiva do mundo. E a audiência não para de crescer.

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M – Câmera destinada a filmar o jogo para internet e celulares
1 – Posicionada no alto do estádio e no centro do campo, capta todo o gramado
2 – Exclusiva para close-ups em todos os pontos do campo
3 e 4 – Ficam na intermediária e são usadas para os replays de impedimentos, jogadas de ataque e closes dos goleiros
5 e 6 – Captam os pés dos jogadores e a bola em câmera lenta
7 – Fica na linha do campo, no centro, grava os closes das jogadas naquela região do gramado
8 e 9 – Dedicadas a um jogador específico, independentemente do que ele estiver fazendo. O personagem é trocado a cada 15 minutos
10 e 11 – Cobrem apenas as interme-diárias
12 – Instalada em um helicóptero, é usada antes das partidas
13 – No teto do estádio, mostra o esquema tático dos times

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14 e 15 – Câmeras móveis, na linha do gramado, são usadas para gravar os jogadores batendo laterais e escanteios. Também registram os bancos de reserva
16 e 17 – Minicâmeras dentro dos gols
18 e 19 – Atrás dos gols, sempre em gruas

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20 e 21 – Câmeras especiais, usadas pela primeira vez em Copas, para captar imagens superlentas. Fazem 700 imagens por segundo
22 – Destinada a fazer imagens em câmera lenta de treinadores, jogadores e personalidades nas tribunas. Trabalha em ângulo invertido
23 e 24 – Câmeras elevadas, cada uma focada em um time
25 – Câmera especial para imagens lentas, em ângulo invertido e sempre no meio do gramado
26 – Elevada por meio de cabos presos ao teto do estádio, faz imagens de cima do gramado e percorre todo o campo
27 – Mostra o estádio como um todo e suas áreas externas
28 – Câmera elevada e dedicada exclusivamente para close-ups
29 – Instalada no alto do estádio, sobre o gol, ao lado direito das tribunas
30 e 31 – Exclusivas para cenas em câmera lenta, ficam atrás dos gols

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32 – Acionada antes e depois da partida para gravar entrevistas em campo

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Colaborou Caio Barreto Briso


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