Dona da segunda maior bilheteria da história do cinema com a série O senhor dos anéis, a produtora americana New Line já andava atrás de um substituo à altura para essa mina de ouro que faturou US$ 2,9 bilhões em todo o mundo. A procura teve fim e nova fonte de grandes lucros chegou – trazendo até mesmo a palavra ouro no título. Trata-se de Fronteiras do universo, trilogia escrita pelo inglês Philip Pullman, cujo primeiro episódio de fantasioso enredo chama-se A bússola de ouro e desembarcará nos cinemas na época de Natal. Traz respeitáveis credenciais de blockbuster: orçamento de US$ 180 milhões, elenco encabeçado por Nicole Kidman e Daniel Craig e efeitos especiais de tirar o fôlego. Para aplacar em parte a ansiedade do público, a editora Objetiva coloca nas livrarias nesta semana as três obras de Philip Pullman – A bússola de ouro, A faca sutil e A luneta de âmbar. A tentação de olhar o autor como um mero copiador de J. K. Rowling e J.R.R. Tolkien é grande e fácil, mas equivocada. É só checar a data de lançamento do primeiro livro de Pullman. Ele apareceu em 1995, dois anos antes do primeiro Harry Potter e cinco anos na frente do lançamento do primeiro filme O senhor dos anéis.

A trama da trilogia Fronteiras do universo, traduzida em 39 idiomas, é um mundo paralelo habitado por bruxas voadoras, povos de nomes estranhos e gigantescos ursos que falam. A heroína da história, a órfã Lyra (interpretada pela estreante Dakota Blue Richards, escolhida entre dez mil candidatas), foi criada em Oxford, na Inglaterra – só que, no caso, nem essa Inglaterra é real. Ela é sobrinha de um explorador do Pólo Norte que descobre segredos que ameaçam a ordem religiosa, chamado Lord Asriel (Daniel Craig). Extremamente curiosa, Lyra parte para essa região em companhia da sra. Coulter (Nicole Kidman), uma pesquisadora que acaba por se revelar uma tremenda vilã. A menina escapa de suas garras e, ajudada pelos gípcios, sai em busca do amigo Roger, seqüestrado pelos gobblers, habitantes do reino de Bolvangar. É lá que ela passa a contar com a ajuda de um gigantesco urso de armaduras, Iorek Byrnison, e de um caubói-aeronauta americano que viaja num balão, Lee Scoresby (Sam Elliot). Logo nas primeiras cenas, Lyra toma posse de um instrumento mágico, o aletiômetro (a tal bússola de ouro), cuja combinação de três ponteiros e 36 arcanos permite responder a qualquer pergunta do universo. Todos os personagens andam acompanhados de seu daemon (demônio), animal que representa o principal traço de seu caráter – o de Lyra, por exemplo, chama-se Pantalaimon e assume feições de mariposa, arminho, gambá, porco-espinho, gaivota, gato e dragão. Dá para imaginar o show de efeitos especiais.

AVENTURA Nicole interpreta uma cientistaviajante e Dakota uma garota destemida

Repetindo a sua estratégia de marketing de 2001, quando lançou O senhor dos anéis, a New Line exibiu em Cannes dez minutos de A bússola de ouro – e claro que pôs na tela cenas que têm esses fortes efeitos, como a de Lyra cavalgando o urso Iorek nas geleiras do Ártico. Foram justamente essas exigências mirabolantes que afastaram o cineasta Chris Weitz da direção do filme em 2005. Alegando "dificuldades técnicas", ele passou a tarefa para Annand Tucker e permaneceu apenas como roteirista, função exercida anteriormente pelo tarimbado Tom Stoppard – que apesar de toda a experiência não conseguiu sintetizar em duas horas de filme as caudalosas páginas do livro. No ano passado, Weitz acabou voltando de novo para a direção, depois Annand brigou com a New Line. Na verdade, relações harmoniosas não fazem parte da fase de produção de grandes filmes. O escritor Pullman, por exemplo, queria que o explorador americano Scoresby fosse vivido por Samuel L. Jackson. Nem sequer foi ouvido. Mas ele garantiu Nicole Kidman no elenco, mesmo não conseguindo mudar a cor de seu cabelo: no livro é preto, no filme a atriz está loira. Ou seja, como na vida real.