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A moça inteligente, com humor afiado e um tanto desprovida de vaidade, está estabilizada profissionalmente, mas continua solteira. Até que, como num passe de mágica, encontra sua alma gêmea. Um homem charmoso, íntegro, disputado pelas mulheres e que cai de amores por ela à primeira vista. Nas comédias românticas, quando o cosmos entra em ação, não é necessário esforço, apenas a sorte de estar no lugar certo, na hora certa. Basta não discutir com os deuses e deixar que os olhares e a sintonia de pensamentos fluam. Essas produções atraem milhões de espectadores ao cinema, que saem das salas de projeção enlevados, certos de que é possível viver histórias de amor como a que acabaram de assistir. Pesquisadores escoceses comprovaram que tais devaneios só prejudicam os relacionamentos do outro lado da tela.

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Para analisar a influência do cinema na construção dos conceitos de amor entre os jovens, os psicólogos Bjarne Holmes e Kimberly Johnson, da Heriot- Watt University, na Escócia, avaliaram as 40 comédias românticas hollywoodianas de maior sucesso de bilheteria no período de 1995 a 2005, com base nas opiniões de 295 estudantes universitários. O estudo, divulgado recentemente, concluiu que as produções são mais populares entre as mulheres. Para elas, reforçam crenças do relacionamento predestinado – a tal outra metade da laranja – e a ideia de que o amor prescinde de conversa, pois um apaixonado pode ler o pensamento do outro. "As jovens acreditam que a felicidade será facilmente alcançada e mantida quando encontrarem a pessoa certa. Por isso desistem facilmente de relacionamentos diante das primeiras dificuldades: acreditam que, se há conflitos, não era para ser", diz Holmes. Já os homens pensam ter encontrado a cara-metade quando a química sexual é intensa.

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O estudo também mostra que 90% dos entrevistados recorrem ao cinema e 94% à televisão para aprender a lidar com relações amorosas na vida real. É certo que o reforço dos estereótipos dos ideais românticos é alavancado pela força da indústria cinematográfica.

Levantamento da University College of Dublin, na Irlanda, revela que esse tipo de comédia gera, a cada ano, US$ 1,2 bilhão em vendas nos Estados Unidos, sendo responsável por 40% do gênero de ficção no mercado americano. Nos últimos 30 anos, o formato já faturou mais de US$ 10 bilhões em bilheteria. O mais recente sucesso é o filme Ele simplesmente não está a fim de você (He’s just not that into you), que narra casos de mulheres que não percebem que o parceiro não está interessado nelas. O filme faturou mais de US$ 120 milhões desde a estreia, no dia 6 de fevereiro. O lançamento no Brasil está previsto para 27 de março. O livro homônimo, publicado em 2004, vendeu mais de três milhões de exemplares no mundo.

"O romantismo tem um forte apelo desde a infância, através dos contos de fadas. É um discurso inesgotável porque representa temas como a busca pelo amor absoluto, perdido no afastamento da criança da sua mãe", analisa Sônia Curvo de Azambuja, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. O estudo de Holmes e Johnson confirma a tese e revela que, nos 26 maiores clássicos da Disney, o tema central das histórias é o amor à primeira vista, com casais que se apaixonaram em minutos, casaram e viveram felizes para sempre. "O cinema não aliena a pessoa. Ele apenas capta um desejo de romance que é intrínseco ao ser humano", diz Sônia.

Ao contrário do senso comum, as comédias românticas também agradam aos homens. De acordo com levantamento da Kansas State University, numa escala de 1 a 7, 100% deles revelaram ter 4,8 pontos de interesse pelo gênero. "Muitos namorados apoiam a escolha da parceira pela comédia romântica", diz o pesquisador Richard Harris. "Eles também nutrem, mesmo que secretamente, a referência da alma gêmea", complementa Holmes.

Apesar das restrições que os especialistas fazem a esse gênero, eles defendem a importância das fantasias. "O problema é quando as pessoas tratam a ficção com total descrença ou como verdade absoluta. É fundamental a constante alimentação e desconstrução da fantasia para o processo de amadurecimento do indivíduo", avalia o psicanalista Luis Fernando Gallego, membro da Federação Brasileira de Psicanálise e da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro. Ou seja: um filme é só um filme.

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