ARTE: FERNANDO BRUM SOBRE FOTO DE MURILLO CONSTANTINO

Lugar de mulher é na… Calma, não se apresse em responder. O mundo vem passando por grandes mudanças nas últimas décadas. E não são apenas climáticas. São, também, de gênero. Os homens estão perdendo a hegemonia na escala econômica mundial. Desde a revolução sexual dos anos 60 do século passado, a crescente independência feminina chegou a ponto de, naturalmente, transformar as mulheres em motor do crescimento de um país.

Elas já são 44% da população economicamente ativa do Brasil, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Em uma década, 10,7 milhões de brasileiras ingressaram no mercado de trabalho. Seu poder crescente terá um impacto cada vez maior no desenvolvimento do País. Um estudo realizado em 2006 pelo Fórum Econômico Mundial concluiu que, quanto maior é a participação das mulheres na vida econômica de um país, mais desenvolvido ele é. Ou seja, lugar de mulher é na economia.

Isso não significa que a função delas seja gastar o salário do companheiro. Ao contrário, elas conquistaram tamanha liberdade que, pela primeira vez no mercado brasileiro, existem mais cartões de crédito nas carteiras das mulheres do que nas dos homens. Atualmente, 50,2% dos 81 milhões de cartões estão em mãos femininas. Elas devem gastar R$ 86,4 bilhões neste ano com o dinheiro de plástico, de acordo com levantamento da Itaucard. “A mulher aprendeu a usar melhor o cartão do que o homem”, diz Fernando Chacon, diretor de cartões do Banco Itaú. Em média, as mulheres gastam R$ 87 por mês no cartão, abaixo dos R$ 91 computados na média geral. Este é um reflexo de que elas ainda não têm salários iguais aos dos homens, mesmo quando estão na mesma posição hierárquica – as estimativas são de uma diferença de quase 20% a favor deles.

Quando se junta toda a força de trabalho, a distância é maior ainda. No ano passado, os ganhos médios anuais das brasileiras foram de R$ 4,1 mil, pouco mais da metade dos R$ 7,9 mil obtidos pelos trabalhadores do sexo masculino. “A renda ainda não acompanhou o ingresso maior da mulher na economia”, diz Francisco de Moraes, chefe do Departamento de Economia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Há um longo caminho pela frente para a equiparação financeira entre os gêneros e o crescimento dos tailleurs em meio aos ternos masculinos na direção das empresas. Levantamento com 97 companhias do Grupo de Líderes Empresariais (Lide) mostra que 15% das mulheres têm cargo de diretoria e apenas 5% são vice-presidentes e presidentes. “Para atingir determinados cargos, as mulheres se esforçam mais, precisam provar um pouco mais que são competentes”, diz Chieko Aoki, presidente do Blue Tree Hotels e do Grupo de Mulheres Líderes (Lidem). Chieko se desdobra administrando hotel, cuidando do lar e presidindo o Lidem. É uma vantagem delas: a versatilidade e a facilidade de adaptação a muitos afazeres simultâneos. “A mulher corporativa trabalha em equipe e ainda toma conta da casa e cria os filhos sem culpa”, diz Viviânne Martins, responsável pela área de compras da Bayer.

No mercado financeiro, elas já marcam presença há alguns anos. Em 2004, o fim do pregão a viva-voz acabou com um dos últimos redutos predominantemente masculinos da Bovespa. As negociações eletrônicas não distinguem o sexo dos operadores e elas invadiram as mesas das corretoras. Tornaram-se peças- chave nas estruturas e já são um terço dos profissionais de investimento. Trouxeram consigo características incomuns até então: tranqüilidade e sensibilidade para atender os clientes. A tradicional gritaria das mesas diminuiu. “As mulheres deixaram o ambiente de trabalho mais silencioso”, diz Roberto Lee, diretor da Win, serviço da Alpes Corretora. Não era para menos. “A mulher é mais ponderada. E os homens se controlam mais com a nossa presença”, conta a operadora Marcela Sieradzki.

Será muito bom para o Brasil se a evolução do papel da mulher na economia continuar a ocorrer. Os estudos do Fórum Econômico Mundial mostram que elas já têm acesso semelhante ao dos homens em áreas como saúde e bem-estar, mas precisam avançar mais em participação e oportunidade econômica e em participação política. As atuais limitações nessas áreas impedem um nível maior de desenvolvimento, já que uma boa parte da população economicamente ativa não está sendo aproveitada. “As corporações e os governantes precisam perceber que a maior participação feminina aumentará a competitividade do Brasil na economia mundial”, explica a economista paquistanesa Saadia Zahidi, chefe do programa de Mulheres Líderes do Fórum Econômico Mundial.

AS MULHERES JÁ SÃO UM TERÇO DOS PROFISSIONAIS DAS CORRETORAS DE VALORES

Elas detêm 50,2% dos cartões de crédito… (Fonte: Itaucard)
…e representam 44% da população economicamente ativa. (Fonte: OIT)
Mas ocupam apenas 15% dos cargos diretivos nas empresas (Fonte: Lidem)