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FANTASIA
Heloísa Ogg, 4 anos, dentro da Casa Cor-de-Rosa:
veneração começa na maternidade

Rosa é cor de menina e isso começa a ser ensinado ainda na maternidade, onde o enxoval, as lembranças e os presentes se apresentam de forma monocromática aos olhos das recém-nascidas. A indústria e o setor de serviços sabem bem disso, tanto que seduzem as pequenas incautas com enxurradas de novos produtos, nos mais variados tons de rosa – e se possível com alguns brilhinhos –, todos os dias. São bonecas, brinquedos, roupas, acessórios, objetos de papelaria e decoração que transportam as meninas para um mundo de conto de fadas. Basta um olhar mais atento para o setor feminino infantil dos grandes magazines para observar qual é a cor reinante. Algumas lojas levaram tão a sério esse universo embalado por bonecas Barbie e princesas que praticamente aboliram os outros tons das prateleiras. Há exemplos nos Estados Unidos, na Argentina, na China e, desde a semana passada, em São Paulo. Casas desse tipo são o sonho de consumo de nove em cada dez meninas. Mas, apesar de considerado inofensivo para boa parte da população, esse estímulo à fascinação pelo rosa vem sendo demonizado por um grupo de mulheres, que se organizaram no movimento Pink Stinks (rosa fede), com sede no Reino Unido, e simpatizantes em outros países, inclusive no Brasil.

Fundado por duas irmãs e mães britânicas, Abi e Emma Moore, o movimento defende que o rosa remete a um padrão de comportamento inadequado. “As meninas passam a infância fingindo ser princesas, impecáveis, à espera do príncipe”, dispara Abi. “A cultura do rosa é baseada no culto à aparência em detrimento da inteligência. Além disso, elas estão aprendendo a ser românticas e dependentes dos homens.” Para o movimento, a “rosificação” infantil transcende as roupas, os acessórios e os brinquedos. Também seria fortemente divulgado em livros e filmes destinados à essa faixa etária. A antropóloga Mirian Goldenberg divide a angústia. “Enquanto as meninas estão de rosa da cabeça aos pés, os meninos vestem azul, verde, amarelo… e até rosa. E eles não são apenas mais livres nas cores, mas também correm, brincam e se sujam muito mais.”

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TENDÊNCIA
As lojas temáticas, como a Casa da Barbie (EUA),
aumentam ainda mais o fascínio pela cor

Geralmente, a cultura do rosa é estimulada pelas mães. A secretária Sueli Ogg, 42 anos, preencheu do guarda-roupa ao baú de brinquedos de Heloísa, de 4, com essa cor. “Eu adoro rosa e ela aprendeu a gostar”, confessa Sueli. “O que existe hoje é a ditadura do rosa”, diz a administradora de empresas Ana Cristina da Rocha, 34 anos, mãe de Maria Eduarda, de 2. Nem Ana nem Duda, gostam do tom e a mãe sofre na hora de encontrar roupas de outras cores para a filha. “Desde fevereiro, procuro uma roupinha preta e branca para ela”, reclama. Será que os contos de fadas não seriam mais divertidos se fossem mais coloridos?