Chama-se Karen Strier e é americana diplomada em Harvard a melhor protetora dos muriquis – o maior macaco das Américas, com 1,5 metro de altura e 1 metro de cauda, só existente no Brasil e por isso chamado de macaco brasileiro. Se a espécie ainda sobrevive, deve-se muito a essa antropóloga que em 1982 visitou a fazenda Montes Claros, na cidade mineira de Caratinga – à época sem telefone e sem transporte regular. Um pouco ao estilo hippie, ela veio para cá, ainda estudante, a convite de um biólogo observador de espécies nativas. O que Karen não esperava é que seu destino e sua alegria de viver seriam traçados nessa viagem. “Assim que cheguei à fazenda, vi um macaco que me pareceu desprotegido. Fiquei encantada e decidi estudar a sua espécie para protegê-la”, diz ela. Karen vive nos EUA, mas conhece e cuida como ninguém de nossos muriquis. Essa dedicação que dura 25 anos é agora contada por ela no livro Faces da floresta, lançado em São Paulo na semana passada. O enfoque principal da obra, claro, é a luta e o apelo pela preservação do muriqui. E Karen avisa que, em seus cuidados com essa espécie, o livro não significa um ponto final.

De volta ao ponto inicial, Karen diz que, quando chegou à fazenda mineira, aprendeu muito com um senhor chamado Feliciano, dono das terras e “dono dos muriquis”. Feliciano Miguel Abdala, um rico e arredio cafeicultor, a seu jeito protegia os macacos – e o seu jeito era à bala, numa espécie de troca entre ele e os símios. “Os muriquis protegem o meu café e eu os protejo”, disse-lhe ele. Tanto é assim que, certa vez, Feliciano mandou chumbo num caçador que matara um macaco. Quando Karen chegou à fazenda havia somente 40 deles. Graças aos seus esforços, a fazenda Montes Claros foi transformada pelo Ibama em Reserva Particular do Patrimônio Natural e hoje vivem nela 160 espertos e brincalhões muriquis – que, apesar de tudo, continuam a correr risco de extinção. “Eles só comem frutos e folhas da floresta. Esses primatas dependem da Mata Atlântica para sobreviver e desaparecerão se o seu habitat continuar a ser destruído”, diz a antropóloga.


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