Uma das explicações para o Dia da Mentira diz que, em 1564, o rei da França Carlos IX ordenou que o Ano-Novo fosse comemorado no dia 1º de janeiro, como indicava o calendário gregoriano. Até então, a data era festejada no dia 1º de abril. A mudança gerou confusão e alguns debochados enviaram presentes bizarros e convites de festas falsas. Muitas vezes vista como inocente chacota das quais nenhum ser humano escapa, a mentira pode causar tragédias, lesar relações humanas – e contas bancárias. Segundo pesquisas neurocientíficas, mentimos cerca de 200 vezes por dia e uma vez a cada cinco minutos, em média. A estatística soa exagerada, mas parece apontar aos depoimentos nas CPIs do Congresso Nacional. Ouvindo os interrogatórios, é quase impossível saber o que é verdade ou não, tantos são os desmentidos e contradições. E se a mentira é natural, a omissão é um direito. Juridicamente, ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo.

Alguns acreditam que é possível identificar um mentiroso por meio de seus gestos e olhares. Para a psicóloga Denise Gimenez Ramos, da PUC-SP, isso só funciona quando quem mente não está habituado a mentir. “Os mentirosos convictos são treinados e a mentira vira verdade para eles. Dá para notar quando um honesto mente. Já o mau-caráter não”, diz. Segundo ela, o mentiroso compulsivo geralmente é muito inteligente. E tem problemas de auto-estima, sentimento de inferioridade. “Ele não tem muita autoconfiança e quando engana as pessoas sente-se mais forte”, completa. Uma coisa é certa – pelo menos unânime entre os especialistas: a verdade é a base da sanidade mental.

O fato é que o ser humano já na infância começa a mentir – ou contar pequenas lorotas. Para fugir da repressão ou firmar sua independência em relação aos pais. A diferença entre as pessoas é o quanto elas se acham convincentes. E aí começa a perda de limites. A psicóloga paulista Olga Tessari afirma que há vários motivos que levam um sujeito a não dizer a verdade. “Há os que mentem para mostrar status diante dos colegas, evitar sofrimento, não ser punido ou não causar sofrimento a outros.” O problema, segundo ela, é quando o mentiroso vive em função das suas inverdades. “Ele sofre para evitar que a mentira seja descoberta, cria situações e outras histórias para sustentar e se torna vigilante contínuo de si mesmo.” Esse estado permanente de stress, a longo prazo, pode até causar doenças como câncer ou úlcera. Mas, segundo Denise Gimenez Ramos, nenhuma mentira é eterna. Se ninguém descobre a verdade, muitas vezes o mentiroso não suporta a autopressão e inconscientemente dá um jeito de contá-la. Pode demorar, mas um dia a casa cai.