Para quem já pesou 140 quilos, chegar a 80 é uma grande vitória. Sensações assim são relatadas por muitas pessoas que recorreram às cirurgias bariátricas, as que reduzem o estômago e viabilizam o emagrecimento. Indicada para casos de obesidade grave – quando o índice de massa corpórea (peso dividido pela altura ao quadrado) é superior a 40 –, a operação atende cerca de 15 mil obesos por ano no Brasil. O problema é que ela não garante a eliminação do mal pela raiz. Quer dizer que os pacientes podem recuperar parte dos quilos perdidos cinco anos após o procedimento. Esse é o primeiro resultado de um estudo, ainda em andamento, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Desde o início do ano, foram avaliadas 65 pessoas operadas entre cinco e dez anos. Delas, 24,6% tiveram aumento de até cinco quilos. Mas na média foram recuperados 13 quilos (o ganho máximo foi 40 quilos). A informação é um alerta para quem via a redução de estômago como solução para a obesidade. “A cirurgia é eficaz. Obriga a pessoa a comer pouco e devagar, porém não muda a maneira psicológica como o paciente lida com o alimento”, diz o cirurgião Joel Fantuch, que participou do estudo. Segundo o médico, até 20% dos casos tratados não apresentam resultados ideais. São esses, principalmente, que preocupam.

Relativamente antigo na medicina, o procedimento vem sendo cada vez mais procurado nos últimos anos. A cirurgia bariátrica envolve técnicas diferentes, como o uso de um anel para limitar a ingestão (o estômago é dividido em dois) e a adoção de uma cinta gástrica que “estrangula” o estômago. As clínicas, entretanto, não têm se limitado à oferta de meios mecânicos de combater o problema. Diversas trabalham com psicólogos e especialistas em nutrição. “No entanto, nossos resultados mostram que precisamos de aprimoramento. O paciente tem de ser acompanhado por mais tempo e por mais profissionais”, analisa Fantuch.

A cirurgia evita que muitos obesos sucumbam às complicações provocadas pela doença. Mas não é milagrosa e isso tem de ficar claro. “Algumas pessoas se acomodam assim que se sentem bem. Não voltam à clínica, não comem direito e não se exercitam. Depois, retornam, às vezes deprimidas, e, se são orientadas para a dieta, reclamam porque achavam que estavam livres disso”, conta o cirurgião Marcelo Roque de Oliveira, integrante da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica. Apesar da recuperação de quilos, não é raro ver pacientes ainda satisfeitos com a balança. Isso foi notado na pesquisa do Hospital das Clínicas. E também é percebido no dia-a- dia dos centros especializados. A administradora de empresas Rosana Ferreira, de Santos (SP), não está agoniada com o que ganhou. Em 2001, ela, que mede 1,69 m, pesava 147,5 quilos. Naquele mesmo ano, foi operada. Engravidou e teve uma filha em julho de 2003. Três meses após o parto, estava com 89 quilos, o mais baixo peso desde a cirurgia. Depois disso, engordou. Hoje, aos 36 anos, está com 96,4 quilos. “Estava muito melhor com 89, mas sou viciada em refrigerante. Já tenho uma psicológa para me ajudar e quero buscar um nutrólogo. Mas, perto do que eu tinha, estou bem. Não me sinto culpada”, conclui.