O Banco Central (BC) não levou em conta o cenário de uma inflação de 5,67% até o final do ano, muito próxima da ambiciosa meta do governo (5,1%), e manteve inalterada pelo segundo mês consecutivo a taxa de juros básicos da economia, a Selic, em 19,75%. Apesar da crise política, o mercado chegou a se animar, na quarta-feira 20, com os boatos de que o BC poderia começar a tão esperada redução dos juros. Ficou nos boatos. Os críticos de plantão voltaram à carga. Paulo Skaf, presidente da Fiesp, alertou para a gravidade dos desdobramentos em se manter a taxa nas alturas, que acaba afugentando investimento em produção. Do lado do comércio, a Federação do Comércio de São Paulo emitiu nota criticando a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de segurar os juros no atual patamar. “Não condiz com a realidade do País, especialmente no que tange às taxas praticadas em países emergentes com economias comparáveis à brasileira”, diz a nota.

O juro real no Brasil (descontada a inflação) é disparado o mais alto do planeta. Levantamento da consultoria GRC Visão projeta uma taxa de 14,1% em 12 meses. A Hungria, com juro anual de 5,1%, vem em segundo lugar. É quase três vezes menor. Embora tudo indique que o Copom deva começar a reduzir a taxa na próxima reunião, em meados de agosto, o economista Sílvio Campos Neto alerta para alguns fatores de risco que poderão alterar o timing das reduções da Selic. Segundo ele, o comportamento dos preços do petróleo, que poderá alterar para cima os preços dos combustíveis no mercado doméstico, e o agravamento da crise política, com provável fuga de capitais, colocam em risco a trajetória futura da inflação. Por enquanto, só resta rezar para que nada de grave aconteça até a próxima reunião.


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