As economias acabaram, o aluguel venceu e, para honrar seus compromissos, Glaydson Silva teve de colocar o carro à venda. Desempregado há seis meses, o historiador de 33 anos não sabe como vai se manter. Formado pela Universidade do Estado de São Paulo (Unesp), Glaydson fez doutorado pela Unicamp e uma especialização na faculdade francesa de Sorbonne. Desembarcou de volta da França com a certeza de que não teria dificuldades para conseguir emprego. Enganou-se. De acordo com dados do IBGE, os mais afetados pelo desemprego são os instruídos. Atualmente, eles são cerca de 1,2 milhão, quase metade dos brasileiros com mais de 11 anos de estudo. O índice aumentou cerca de 30% nos últimos quatro anos. Estima-se que também façam parte deste time de desempregados pelo menos 20% dos que têm nível superior completo.

Os números impressionam. Afinal, países em desenvolvimento precisam de mão-de-obra apta para desenvolver tecnologia nacional. O problema é que ainda não existe espaço para eles. “As vagas só surgem quando a economia esquenta”, diz José Pastore, uma das maiores autoridades no assunto. “E o motor deste aquecimento ainda é a indústria pesada, que não exige mão-de-obra tão qualificada.” Os brasileiros não são os únicos a sofrer deste mal. Na Índia, por exemplo, as autoridades não conseguiram conter a fuga de cérebros para os EUA e a Europa. Grande parte de seus melhores profissionais transferiu-se para o Vale do Silício, a meca americana da informática e da tecnologia, desde os anos 80. Foi só com o fortalecimento da indústria de programas de computador, na região de Bangalore, que muitos decidiram fazer o caminho de volta, quase duas décadas depois. Atualmente, os softwares são o carro-chefe das exportações indianas.

Jeitinho – O Brasil engatinha nesse sentido, apesar de importantes setores
da economia sinalizarem mudanças. Na Monsanto, gigante mundial da biotecnologia, por exemplo, 20% dos funcionários têm mestrado ou doutorado.
Já na petroquímica Braskem, eles são 10%. Contudo, não basta apenas ter formação sólida para agarrar uma vaga. “Hoje, pós-graduação não é mais um diferencial”, diz Climério Brito, da Braskem.

Quem não passa no funil da seleção é obrigado a enfrentar uma realidade
cruel. Sem perspectivas, esses candidatos fazem estripulias para arrumar um trabalho. Chegam ao cúmulo de omitir qualificações e, não raro, procuram ofertas
em outras áreas. Acabam aceitando cargos que nem mesmo exigem formação.
Um levantamento da Secretaria Municipal do Trabalho de São Paulo detectou
que 8% dos trabalhadores com nível superior são subaproveitados. Para José
Floro, especialista da área de recursos humanos, esses profissionais usam o emprego como trampolim, enquanto não acham coisa melhor. Não é à toa que
uma das maiores dificuldades das corporações é administrar a insatisfação de
seus funcionários. Uma pesquisa recente afirma que três entre quatro vivem frustrados com o atual emprego.

Outro dado alarmante vem das empresas de recrutamento. Segundo elas, além de custarem caro, os superprofissionais não gostam de dividir tarefas e penam com as regras de hierarquia. “Eles se acham superiores”, diz Robert Wong, conhecido caça-talentos. “As companhias querem pessoas flexíveis, um diamante bruto a ser lapidado”, compara. E essa disposição deve ficar clara durante uma entrevista. Nessa hora, a maioria dos candidatos se preocupa em reforçar sua formação e experiência. Teriam mais chances se demonstrassem gana para aprender e jogo
de cintura para enfrentar situações difíceis. E numa entrevista eles são testados
com perguntas que são verdadeiras saias-justas. No mercado, competência humana é tão importante quanto o diploma. E isso o currículo não mostra.