A Finambrás, Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários é quase desconhecida entre os brasileiros, apesar de a empresa ter movimentado mais de R$ 7 bilhões em 2006 – o dobro do lucro do Grupo Gerdau. Em sua sede na alameda Lorena, no sofisticado bairro dos Jardins, na capital paulista, nem sequer uma placa identifica a fachada da financeira. Se para os simples mortais a Finambrás não existe, o mesmo não se pode dizer quando se trata de grandes multinacionais como a Rolls-Royce, IBM, White Martins e CSN e alguns empresários, clientes da financeira. Já no Ministério Público (MP) paulista, a corretora aparece em inquéritos sobre fraudes no sistema financeiro. Nos próximos dias, novos dados sobre a empresa deverão vir à tona. Uma investigação do governo do Uruguai, que pediu informações ao Brasil sobre Raúl Alberto Zoboli Pegazzano, um dos sócios da corretora, deve implodir um dos maiores esquemas de lavagem de dinheiro da América Latina. A carta rogatória – pedido de investigação – do país vizinho foi enviada ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e ao Banco Central brasileiro, que agora retorna a Montevidéu o resultado da investigação. Os relatórios sigilosos são explosivos. Segundo eles, a Finambrás está metida em um esquema que pode ter lavado mais de R$ 300 milhões.

 

CARTA ROGATÓRIA Relatório da investigação feita por técnicos do Ministério da Fazenda é encaminhado ao governo do Uruguai. Nele, os investigadores constataram irregularidades em contratos e possíveis fraudes no mercado de câmbio

O presidente do Coaf, Antonio Gustavo Rodrigues, enviou um calhamaço de documentos sigilosos sobre a Finambrás ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde tramita a carta rogatória. O relatório do Coaf, número 6571, redigido no dia 8 de maio de 2006, é o resultado de um rastreamento financeiro realizado em diversos países. No Brasil, entre 2000 e 2005, a Finambrás efetuou saques em espécie e fez várias operações com indícios de lavagem, no valor de R$ 157 milhões. Em outros países, esse montante bate a casa dos R$ 145 milhões. Total da conta: R$ 302 milhões. Os técnicos dos órgãos ligados ao Ministério da Fazenda concluíram que as altas movimentações financeiras da empresa – muitas em regiões de fronteira ou no estrangeiro – são incompatíveis com o patrimônio declarado pelas pessoas envolvidas. E mais, depósitos vultosos por meios eletrônicos e quantias que não guardam relação com a atividade comercial da empresa que faz a operação de câmbio.

Não é a primeira vez que a Finambrás se envolve com operações suspeitas de irregularidade. Em 2001, o BC encaminhou notícia crime ao MP relacionando indícios de crime contra o sistema financeiro, envolvendo a empresa – foram descobertas operações lesivas ao mercado de câmbio. Diversas empresas comerciais celebraram contratos de câmbio com pagamento antecipado de importações, feito antes do embarque da mercadoria. O suposto fornecedor dos produtos no Exterior era a Asilux Trading, com sede no Uruguai, uma empresa inexistente. Não houve comprovação do desembarque das mercadorias em solo nacional. Não há registros de punição da Finambrás pelas operações irregulares descobertas em 2001. Situação diferente em 2004, quando a CPI do Banestado pediu o indiciamento dos sócios e diretores da Finambrás, por lavagem de dinheiro.

DENÚNCIA Investigadores do Coaf têm indícios de que, na verdade, a financeira Finambrás lavava dinheiro

Nas investigações deste ano, o governo uruguaio pede que o Ministério da Fazenda investigue Raúl Alberto Zoboli Pegazzano porque o empresário demonstra interesse em adquirir cotas da empresa Câmbio Orolar, uma corretora de Montevidéu. O atual proprietário da Finambrás, o uruguaio Ricardo Sánchez, admite ter tido problemas com operações financeiras. "Tivemos o sigilo quebrado pela CPI", diz Sánchez. "Mas jamais fomos chamados a prestar nenhum esclarecimento." Sánchez nega que sua corretora tenha lavado dinheiro utilizando- se de empresas "fantasmas". "A Finambrás não se utilizou desta empresa para realizar operações de importação e exportação", diz. Logo em seguida, no entanto, ele admite ter negociado com a inexistente Asilux. "Em algumas operações, nossos clientes indicaram como recebedora de recursos no Exterior a empresa Asilux", diz Sánchez.