Por que Delúbio, por que Sílvio Pereira estão soltos?!”, perguntava Arthur Virgílio (PSDB-AM), mais indignado que de costume – como se isso fosse possível –, na tribuna do Senado. Seu protesto foi seguido por tucanos, pefelistas e peemedebistas presentes à Casa. A oposição estava em polvorosa e parecia pronta para um levante. Tamanha revolta começou horas antes, na mesma quinta-feira 21, quando a Polícia Federal prendeu o ex-prefeito de João Pessoa e até então secretário de Planejamento da Paraíba, o tucano Cícero Lucena Filho, durante a chamada “Operação Confraria”, que pretendia cumprir outros 27 mandados de prisão. Lucena, ex-ministro de Políticas Regionais do governo FHC, é suspeito de fraudar processos licitatórios na prefeitura. Segundo a PF e o Ministério Público, há indícios de superfaturamento e pagamento irregular em obras públicas realizadas em sua gestão e os desvios podem chegar a R$ 13 milhões. Lucena já pediu demissão do cargo.

A operação culminou no que se pode chamar de “prisão da discórdia”. Para os tucanos, tudo não passa de uma ameaça do governo federal à oposição, que investiga no Congresso os inúmeros casos de corrupção envolvendo o Planalto
e o PT. Pefelistas concordam, já que estão no mesmo barco. Ao pedir um aparte
à fala de Virgílio, o senador José Agripino Maia (PFL-RN) bradou: “Nós dois
seremos alvos permanentes desta gente! Eu e o meu partido, o senhor e o seu partido!” O próprio Lucena, em carta ao governador da Paraíba, Cássio Cunha
Lima (PSDB), se declarou preso político e foi apoiado por seus pares. Em nota, o partido e seus seis governadores repudiaram a prisão: “O PSDB não se intimida diante dessa tentativa de fuzilamento moral e continuará a denunciar e combater, com a mesma firmeza, tanto a corrupção como a prepotência a qualquer pretexto,
em qualquer nível de governo.”

Na defesa, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) disse que a PF seguia ordens judiciais e que o pedido para a prisão preventiva é amparado em investigação prolongada: “Um político preso não é necessariamente um preso político”, afirmou. Certamente o senador petista não convenceu a oposição, que agora está mais irritada do que nunca. E pronta para usar e abusar do discurso da “instabilidade política”, recém-saído das gavetas de deputados e senadores.