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O silêncio tomou conta de um apartamento da rua Santo Antonio, no centro de Juiz de Fora, em Minas, na segunda-feira 11. Um silêncio doído, difícil de ser explicado, de alívio e dor profunda ao mesmo tempo. Neste endereço moram os pais do engenheiro João José de Vasconcellos Jr., seqüestrado enquanto viajava de Baiji para Bagdá, no Iraque, em 19 de janeiro de 2005. O senhor João, de 75 anos, e a senhora Lourdes, de 80, choram a morte do filho desaparecido há dois anos e cinco meses. “Pais são pais… Apesar de todas as evidências em contrário, eles ainda tinham esperança de encontrar o João vivo”, diz Isabel de Vasconcellos, irmã do engenheiro. A sensação de alívio se deve unicamente à possibilidade de, enfim, a família poder dar a João o mínimo: um enterro cristão. Dona Lourdes está inconsolável, mas agora poderá rezar para a alma do filho que morreu. Nos últimos anos, ela convivia com notícias falsas e que se desmentiam continuamente, de forma que era como se o filho morresse e renascesse várias vezes. Ninguém agüenta isso.

Em um confortável apartamento da Barra da Tijuca, no Rio, outra família tentava reunir forças para a última etapa do drama: os filhos de Vasconcellos Jr., Rodrigo, Tatiana e Gustavo, e a mulher, Tereza. Também ali a esperança de que o desfecho fosse feliz ainda existia, embora tênue. O drama de todos os parentes começou a chegar ao fim há pouco mais de uma semana, quando o Exército americano comunicou à embaixada brasileira que “forças aliadas tinham recebido um corpo sem identificação, no Iraque, e que havia suspeita de que poderia ser o do João”, conta Isabel. Imediatamente, os restos mortais foram enviados para perícia através de reconhecimento de código genético na base de identificação dos Estados Unidos, no Kuait. Após a confirmação, a embaixada brasileira – que acompanhou o processo – emitiu certidão de óbito dia 11 e o repatriamento para o Brasil foi feito dois dias depois. João foi sepultado no cemitério Jardim da Saudade, em Juiz de Fora, na sexta-feira 15. “Não estamos conseguindo assimilar tudo direito”, disse Isabel a ISTOÉ na quinta-feira 14. “Acreditamos que seja o corpo de meu irmão porque a certidão é um documento lavrado pela embaixada brasileira.”

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SEQÜESTRO Vasconcellos estava a caminho do aeroporto de volta ao Brasil quando foi atacado

Vasconcellos Jr. trabalhava na construção de uma usina termelétrica pela empreiteira Norberto Odebrecht, no Iraque. Seu desaparecimento foi noticiado em primeira mão no Brasil pelo colunista Cláudio Humberto, que, em seu site no dia 26 de março de 2005, informou que se encontrava em Brasília um ex-embaixador da Jordânia com documentos de Vasconcellos. Desde seu desaparecimento, em 19 de janeiro daquele ano, quando o carro em que estava a caminho do aeroporto foi atacado por um comboio, muitos movimentos foram orquestrados pela família, autoridades e personalidades brasileiras para localizar seu paradeiro. Não oficialmente, cogitou- se que o grupo de terroristas que assumia o atentado teria pedido R$ 400 mil à construtora para entregar o cadáver do engenheiro – o que não teria sido aceito – supostamente morto no momento da emboscada. Isabel faz questão de agradecer aos apelos humanitários gerados por brasileiros e também no Iraque para encontrar seu irmão. “Chegamos ao desfecho dessa tragédia graças às ações humanitárias realizadas. Agradecemos a todos”, disse ela.

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