Vexame. Foi esse o resultado dos depoimentos dos ex-dirigentes do PT Delúbio Soares e Sílvio Pereira à CPI dos Correios. Para tentar negar a existência do mensalão, Delúbio insistiu na versão de que montou o caixa 2 de seu partido irrigado por cerca de R$ 40 milhões em empréstimos bancários obtidos graças apenas a sua amizade com Marcos Valério. Sempre que os membros da comissão tentavam aprofundar o assunto, o ex-tesoureiro – ora com um sorriso entre dentes que só deixava os parlamentares mais irritados, ora parecendo dopado por remédios – repetia monocórdio: “Prefiro não me pronunciar.”

Delúbio tentou repetir seu depoimento feito na Procuradoria Geral da República, em que “confessou” o esquema do caixa 2 e a associação com Valério. Negou-se ainda a dizer quem seriam os destinatários do dinheiro. “Está claro que esses recursos não são empréstimos tomados em banco, e sim dinheiro vindo da corrupção e do tráfico de influência”, atacou o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). “Ele mente todo o tempo, ou então se escuda no habeas-corpus que conseguiu no STF, para não responder”, criticou o deputado Eduardo Paes (PFL-RJ). “Como militante, estou indignado. Delúbio, você tem que dizer quem participava desse esquema vergonhoso, para o bem do PT”, apelou o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP).

O relator da CPI, Osmar Serraglio (PMDB-PR), citou Cícero (senador e pensador romano do século I a.C.), comparando Delúbio com Catilina (senador famoso pelas intrigas e conspirações no Império Romano): “Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?” Depois, mostrou-se espantado com a versão do ex-tesoureiro de que tinha agido apenas com a colaboração de Valério: “A Executiva sabia das dificuldades financeiras do partido e ninguém quis saber de onde vinham os recursos? Dinheiro chovendo e ninguém perguntava nada?” O senador Saturnino Braga (PT-RJ) se revoltou com as declarações de Delúbio de que todas as campanhas faziam caixa 2. “Uma ova que todo mundo faz caixa 2. Me elegi com campanha modesta, com todos os recursos registrados”, afirmou. Delúbio não reagiu nem à intervenção da deputada Denise Frossard (PPS-RJ), que é juíza aposentada: “O senhor está sendo empurrado sozinho para a fogueira. O senhor conhece as prisões do País?”

O vexame do PT tinha começado na véspera. Também munido de um habeas-corpus, Sílvio Pereira negou conhecer o mensalão e até a versão do caixa 2.
Silvinho enfrentou mais de 12 horas de inquisição e acabou não convencendo que tinha funções limitadas no PT e que não tinha participado da escolha de nomes
para os ministérios e as estatais. “Eu apenas recebia indicação de nomes e os encaminhava ao governo”, declarou. Mas ele se enrolou mesmo foi com um jipe Land Rover Defender, que alegou ter comprado a prazo em 2003. A CPI descobriu que o jipe, que custou R$ 73 mil, foi dado ao petista pela empresa baiana GDK. Pouco tempo depois da doação, a GDK ganhou uma licitação milionária para fazer reformas na plataforma P-34, da Petrobras.