Os atores Cassio Scapin e Claudio Fontana já fizeram todo tipo de personagem, mas nunca se imaginaram interpretando dois limpadores de vidraças, desses que ficam dependurados nos prédios por horas a fio. "A gente está sempre atrás do grande drama e não se atém ao menorzinho e cotidiano", diz Scapin, em cartaz no Teatro Imprensa, em São Paulo, com a peça Andaime – que trata justamente de dois limpadores de vidraças. Já no camarim, a dupla começa a usar involuntariamente o sotaque dos personagens. Mário, vivido por Fontana, tem um acento nordestino; Claudionor, intepretado por Scapin, é mais caipira. "Só decidi pelo sotaque no final dos ensaios e o fiz mais como uma homenagem", diz Fontana, que precisa de ajuda do técnico de palco Alexandre Torres para amarrar o cinto de proteção. Mais esperto, Scapin pediu que a produção costurasse o acessório em sua roupa. "Ele pregou, mas leva bronca da lavadeira", diz Fontana, separando alguns cigarros americanos sem nicotina, usados em cena, e provocando o colega – como, aliás, ele faz o tempo todo na peça. Durante 70 minutos, ambos encenam num andaime de ferro, tipo "balancinho", e jogam conversa fora como dois clowns suspensos no ar. "Não é o lugar mais confortável de trabalhar", diz Scapin. Mas é só iniciar o espetáculo para a platéia se embalar no vai-e-vem da saborosa conversa.