No xadrez da política, o desfecho do caso Renan Calheiros, com o pedido de licença do presidente do Senado, foi um xeque-mate do governo na oposição. Depois de quatro meses e meio de pressão pelo afastamento de Calheiros, os oposicionistas ganharam o troféu que pretendiam conquistar e outro que deveriam ter evitado. A partir de agora, eles têm a cabeça de Renan pendurada na parede e um vazio de idéias a tomar conta dos discursos.

Com Calheiros na Presidência, a oposição tinha retórica para ocupar a mídia e motivos para barrar os projetos de interesse do governo. A dois meses do final do ano, os adversários de Lula usavam a cabeça de Renan como bola para chegar ao único gol que realmente lhes importava no momento: evitar a prorrogação da CPMF.

Se a emenda for aprovada antes do final do ano, Lula governará até o fim do mandato com pelo menos R$ 36 bilhões anuais para obras e investimentos. Impedir que o presidente tivesse direito a esses recursos no ano eleitoral de 2008 era o mesmo que enfraquecê- lo na disputa pelas prefeituras. Concedê-los significa aumentar a musculatura de um governo corpulento. Prorrogar a CPMF até 2010 é ampliar desmedidamente sua força para a eleição presidencial.

Sem a cabeça de Calheiros rolando pelo plenário, a oposição fica obrigada a negociar com o governo a aprovação da CPMF. A lenta agonia do presidente do Senado permitiu a Lula recompor sua base na Casa, tornando-se menos dependente tanto do PMDB quanto dos votos da oposição. Renan Calheiros ainda tem uma carta a jogar com a possibilidade legal de retomar o cargo ao fim dos 45 dias de licença, mas o fato é que, com o desfecho da crise, o governo foi o maior vencedor e a oposição a grande derrotada. Renan não valia os R$ 36 bilhões anuais da CPMF, mas a oposição acabou por assim fazê-lo.