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INTERVENÇÃO
Hélio Costa (à esq.), do PMDB, assume a cabeça
da chapa que Pimentel, agora candidato ao Senado, terá de apoiar

O ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel tinha grandes projetos políticos para este ano. Queria despontar como principal coordenador da campanha da ex-ministra Dilma Rousseff à Presidência e, ao mesmo tempo, sair candidato ao governo de Minas Gerais. Já era cotado também para assumir o comando do Ministério da Fazenda em eventual novo governo do PT. Mas seus ambiciosos planos foram por água abaixo. Hoje, ele é a imagem de um homem desgastado. No decorrer da semana, Pimentel teve suas funções na campanha de Dilma esvaziadas, embora a ex-ministra, por cortesia e amizade, não confirme o rebaixamento em público. E, por exigência do PMDB, aliado de Dilma e do PT no plano nacional, Pimentel viu-se obrigado a abrir mão de sua candidatura ao Palácio da Liberdade em favor do ex-ministro Hélio Costa (PMDB). Resta-lhe apenas tentar uma vaga no Senado pelo PT mineiro. “Estou indo para um velório”, disse o presidente do PT de Minas, deputado Reginaldo Lopes, na segunda-feira 7, antes de chegar à solenidade que anunciou Hélio Costa na cabeça de chapa.

A situação de Pimentel na campanha de Dilma ficou insustentável depois que ele foi acusado de ligação direta com os personagens envolvidos na suposta elaboração de dossiê contra o candidato José Serra (PSDB). Mas não foi um fato isolado. Pimentel já criava problemas para a candidata do PT desde o início da pré-campanha eleitoral. Além de ter sido fragilizado pelas denúncias, publicadas em março por ISTOÉ, sobre sua ligação com o Mensalão petista, o ex-prefeito de BH teve outras ações à frente da campanha de Dilma questionadas internamente pelo seu próprio partido. Entre elas, a indicação do empresário Benedito de Oliveira, o Bené, para ajudar na montagem da estrutura da pré-campanha, o que desagradou aos setores do PT de São Paulo. Nas últimas semanas, Pimentel deixou Dilma ainda mais contrariada por insistir na candidatura a governador, ameaçando a coligação com o PMDB no Estado e também em âmbito nacional. Afinal, a última vez que alguém se elegeu presidente da República, apesar de derrotado em Minas, aconteceu em 1950, com a vitória de Getúlio Vargas. “Um acordo em Minas Gerais foi questão fundamental para o PMDB e para a aliança com o PT no Estado”, diz o presidente nacional do PMDB, Michel Temer, que será vice na chapa de Dilma.

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“Em relação às denúncias de dossiê, sei muito
bem separar o que é fofoca do que é informação”

José Eduardo Dutra, presidente do PT

Para evitar novos desgastes, Dilma preferiu contemporizar: “É invenção. Factoide. O Fernando está na campanha”. O presidente do PT, José Eduardo Dutra, manteve o tom. “Em relação às denúncias de dossiê, sei muito bem separar o que é fofoca do que é informação.” Para se precaver, o PT também passou a difundir a versão de que Pimentel não tinha esse poder todo na campanha. “Apesar da ligação de Pimentel com a Dilma e de acompanhar a ex-ministra nas viagens, ele nunca foi mandachuva”, disse um integrante do staff de Dilma. Mas o fato é que o enfraquecimento de Pimentel é real, e a ordem no PT é tirá-lo dos holofotes e do centro das decisões. Seus aliados ficaram irritados. “O Pimentel estava mais bem posicionado, tinha um potencial maior do que o do Hélio Costa. A pesquisa dele era ascendente e a de Hélio, descendente”, reclamou também o presidente do PT na Bahia, Jonas Paulo, que está cobrando contrapartida idêntica do PMDB em outros Estados.

Com a saída de Pimentel da cena nacional, ganharam mais poder no comitê de Dilma em Brasília o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, o deputado estadual Rui Falcão (SP), que também é 10 vice-presidente do partido, e o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Outra personalidade da banda paulista do PT que aumentou seu espaço na campanha é a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy. Agora, como candidato ao Senado, Pimentel não terá vida fácil. Na eleição, enfrentará candidatos fortes. Despontam nas pesquisas os nomes do ex-governador Aécio Neves (PSDB) e do ex-presidente da República Itamar Franco (PPS). Um dos grandes desafios de Pimentel será mobilizar a militância petista no Estado em torno de Dilma. Segundo um correligionário do ex-prefeito em Brasília, a militância ficou desmotivada. Muitos petistas se recusam a fazer campanha para Costa no momento em que surgem novas denúncias em torno de um acordo do ex-ministro com seu amigo Uadji Moreira, que teria recebido R$ 254 milhões da Telebrás.

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Para piorar, de volta a Minas Gerais, Pimentel terá de enfrentar processos na Justiça (leia box). Conforme antecipou ISTOÉ em março, Pimentel é citado em uma ação que tramita na 4ª Vara da Justiça Federal em Minas, que foi anexada ao processo do Mensalão do PT no Supremo Tribunal Federal. O Ministério Público Federal mineiro aponta o empresário Glauco Diniz Duarte e o contador Alexandre Vianna de Aguilar como responsáveis pelo envio de dinheiro para os EUA. Parte da verba seria destinada às contas do publicitário Duda Mendonça, que fez a campanha de Pimentel quando ele disputou a prefeitura. O dinheiro teria sido desviado de contratos com a Prefeitura de BH durante sua gestão. Como se vê, os dias difíceis de Pimentel estão longe de terminar. Ele ainda terá muito o que se explicar durante a campanha ao Senado.

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