Dois novos estudos divulgados na última semana revelaram que não basta manter o peso ideal para estar a salvo de doenças cardiovasculares e diabete. No primeiro, cientistas da Clínica Mayo, nos Estados Unidos, mostraram que boa parcela de indivíduos com Índice de Massa Corporal (IMC) normal estão também bastante vulneráveis às variações de colesterol, pressão arterial e de taxa de açúcar no sangue, clássicos fatores de risco para infarto ou acidente vascular cerebral. Calculado pela divisão do peso corporal pela altura ao quadrado, o IMC é a medida mais usada para identificar a obesidade. O segundo trabalho, realizado pela Wake Forest University Baptist Medical Center, também nos EUA, com 398 indivíduos, constatou que aqueles que tinham acúmulo de gordura ao redor dos órgãos e entre os músculos – e que não necessariamente eram gordos – portavam maior quantidade de depósitos de cálcio nas artérias, outro indicativo de risco para enfermidades cardiovasculares.

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A pesquisa da Clínica Mayo foi feita com 2.127 pessoas de IMC normal, ou seja, magras. Porém, 61% dos participantes tinham uma elevada taxa de gordura subcutânea, aquela que está logo abaixo da superfície da pele. "Demos a essa condição o nome de obesidade do peso normal", disse à ISTOÉ o cardiologista Francisco Lopez-Jimenez, coordenador do trabalho da Mayo. A investigação mostrou que esse tipo de gordura também coloca em risco a saúde cardiovascular. Até agora, sabia-se dos malefícios do excesso de peso como um todo e da chamada gordura visceral, acumulada no abdome.

A publicação dos dois artigos repercutiu entre os especialistas. "Está claro que o IMC não é mais suficiente para avaliar o risco de problemas cardíacos ou vasculares. Devem-se fazer outros exames, como a medição da circunferência da cintura, inclusive nas pessoas com peso normal", diz Walmir Coutinho, presidente da Federação Latino-Americana de Sociedades de Obesidade. Na opinião de Mauro Guiselini, coordenador do Instituto Runner, de São Paulo, as pesquisas também indicam que é preciso ter ainda mais cuidado na formulação dos treinos de atividade física. "É necessário começar com exercícios aeróbios e depois musculação para regularizar o equilíbrio entre a gordura corporal e a massa magra, formada por ossos, água, órgãos e músculos", explica.

A publicitária paulista Marina Neme, 27 anos, que pode ser incluída na categoria de "falsa magra" de acordo com os parâmetros brasileiros (leia quadro), está atenta a essas novas informações. Por isso, esforça-se para diminuir a concentração de gordura subcutânea. "O excesso aparecia nos quadris e achei que isso não era um bom sinal", diz Marina, que aumentou o tempo dedicado à ginástica durante a semana.