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Dá para imaginar o impacto que é para uma cidade de 20 mil habitantes receber, de uma só vez, dois mil turistas nus em pêlo? É o que aconteceu com Conde, litoral sul da Paraíba, na quarta-feira 10, quando naturistas invadiram a praia de Tambaba para discutir temas relacionados ao meio ambiente, durante o 31º Congresso Internacional de Naturismo. Eles vieram de 33 países, atraídos pela fama da praia, a 40 quilômetros de João Pessoa, cuja topografia intimista, com água morna cristalina, cavernas, piscinas naturais e mais de mil metros de areia rodeados por falésias, compõe um local perfeito para se ficar à vontade. A fama vem de longe – desde a década de 80 banhistas se reúnem ali do jeito que vieram ao mundo. Por causa disso, um consultor de hotelaria francês teve a idéia de faturar com a oficialização do point. Em 1991, uma lei municipal declarou Tambaba a primeira praia oficial de naturismo no Nordeste. Para virar o paraíso dos pelados, foi um pulo.

Ser a sede do congresso internacional, que teve como slogan "O naturismo por um mundo melhor", foi um grande feito para o município do Conde. Pela primeira vez esse evento saiu da Europa e dos Estados Unidos e migrou para uma cidade da América do Sul. "O congresso colocou o Brasil no foco do naturismo mundial", afirmou Anilton Bitencourt, administrador do Complexo Turístico Praia do Pinho, conhecido ponto de naturismo no Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Mas, na cidade, nem todos ficaram contentes com o figurino – ou a falta dele, melhor dizendo.

O "Congresso dos Peladões", como diziam os moradores, dividiu a opinião da população local. Proprietários de hotéis e restaurantes treinaram funcionários para atender os clientes desnudos. "Para nós é uma honra têlos aqui", afirmou Paulo Roberto Soares dos Santos, proprietário da pousada Porto do Sol. O Jacumã’s Lodge Hotel anunciou que permitiria o naturismo em suas dependências, mas teve de tapar uma cerca com um pano para evitar bisbilhoteiros. Fernando Brago, sócio do hotel, elogiou o público naturista. "Por estarem nus, eles têm um respeito mútuo muito maior que nós, vestidos", disse. Já alguns consideraram o encontro uma "poucavergonha". Cássia Crestani, proprietária de uma casa de lanches, disse que sair sem roupa contraria sua religião. "Isso é uma coisa fora do comum, uma falta de respeito à dignidade do ser humano", concordou o corretor de imóveis Márcio Corrêa. "Meus vizinhos viram pessoas peladas e ficaram horrorizados", conta ele.

A prefeitura local não se abalou com a polêmica. "Embora sejamos a décima segunda cidade da Paraíba em tamanho, somos a segunda em número de leitos, com quase 50 hotéis e pousadas", afirmou o secretário de Comunicação municipal, Petrônio Torres. A Sociedade Naturista de Tambaba (Sonata), uma das organizadoras do encontro, estima que 200 mil pessoas freqüentem a praia por ano. Congressistas previam quase R$ 1 milhão em ganhos diretos e indiretos para o Conde só por causa do evento. Durante o encontro, a única exigência era estar sem roupa e seguir o Código de Ética Naturista, que prega o respeito ao próximo e ao meio ambiente. "Se alguém precisasse, sugeríamos que entrasse na água", esclareceu Paulo Campos, presidente da Sonata. Os participantes – todos despidos a caráter, é claro – assistiram a palestras sobre filosofia do naturismo. Houve também campeonato de surfe, shows, jantar de gala e até um baile Adão e Eva. A praia ganhou chuveiros de água doce, banheiros químicos, ambulância e tendas de massagens. Estrangeiros tinham o auxílio de 50 tradutores de inglês, francês e alemão e 100 agentes de segurança poupavam os naturistas do assédio de curiosos. Enfim, uma festa ao natural.