O reiterado exercício reflexivo-existencial de Paul Auster está de volta em Desvarios no Brooklyn (Companhia das Letras, 328 págs., R$ 45). Seu protagonista, Nathan Glass, 57 anos, acaba de superar um câncer, romper um casamento e aposentar-se. Quem melhor do que ele, um homem intimidado pela morte e sentimentos terminais, para fazer as perguntas preferidas de Auster? O que é realmente importante na vida? É possível ser feliz? Temos noção da fragilidade humana? Embora diga, à página 18, que o principal personagem do livro é o jovem Tom Wood, o verdadeiro agente das interrogações e condutor do estilo austeriano é mesmo Nathan, ou Nat. Seu processo de apuração da existência confirma Machado de Assis em Memórias póstumas de Brás Cubas: “Quem escapa a um perigo vive a vida com outra intensidade.” A primeira frase do livro é: “Eu procurava um lugar sossegado para morrer.” O penúltimo capítulo é aberto por “Não morri.” Entre a perspectiva do fim e a certeza da continuação há a história de quem decidiu deixar de ser a pessoa patética e solitária na qual se transformara.

Auster, americano, se notabiliza pela trama bem-dosada entre questões sérias e humor, pensatas e sarcasmo, além de um texto contemporâneo. Mas se caracteriza, também, pela narrativa desdobrada, que muda o foco para novos personagens ao longo da trama, dispersando a história e prejudicando a compreensão. Começa apresentando Nat, passa para a biografia de Tom e, depois, para a de Harry, e prossegue com parênteses para contar a vida de Alex, Aurora, Nancy, Lucy, etc. Quando o leitor está embalado numa existência, corta e entra outro ou volta ao antigo. É cansativo e sugere estratégia fácil de autor que quer agradar ao máximo possível de leitores. Mas pode ser compensado pela sagrada obsessão de rir do que comumente é chamado de normal.

Depois da aposentadoria, a filha tenta convencer Nat a dedicar-se a algum
“projeto” – algo que poderia arrancá-lo da “indolência de uma rotina enfadonha”.
Um livro! Mas ele escolhe relatar todas as mancadas, fracassos, constrangimentos, idiotices, fraquezas e atos fúteis cometidos no decurso de sua “longa e acidentada carreira como homem”. Desvarios no Brooklyn é uma leitura agradável, que
não incomoda nem leva a respostas. Diverte.