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O pé-direito de 5,5 metros impressiona quem abre a porta de uma das entradas sociais – sim, são duas. O imenso salão é iluminado por generosas janelas e três portas de acesso ao terraço. Do lado direito está a sala de lareira. Do lado esquerdo, a de cinema. São seis suítes, sendo a principal maior do que muitos apartamentos de classe média: 220 metros quadrados, dos quais 55 metros quadrados foram destinados apenas ao closet da senhora. Dá para o casal brigar à vontade sem ninguém ter de dormir no sofá de uma das oito salas. Entre os 25 cômodos estão também adega, duas cozinhas, sala de passar roupa, louçaria, sala de jantar, sala de almoço, além de 12 vagas na garagem. Ao todo são 1.223 metros quadrados, o que faz deste apartamento, localizado no bairro do Morumbi, em São Paulo, o de maior metragem do Brasil, sem considerar os dúplex, tríplex e coberturas.

O edifício Adolpho Carlos Lindenberg foi inaugurado no ano passado pela incorporadora de mesmo nome. Metade dos 12 apartamentos do prédio já foi vendida. Para ter um lugar ao sol na varanda (com piscina) do maior apartamento do País, é preciso desembolsar entre R$ 12 milhões e R$ 16 milhões e pagar um condomínio de R$ 8 mil. Embora seja um luxo para poucos, morar em uma “mansão suspensa” tem se tornado cada vez mais comum no Brasil, principalmente em São Paulo. O País vive um boom imobiliário em todos os segmentos, mas agora dispõe de imóveis com preços de Primeiro Mundo, com a vantagem de serem bem maiores do que os apartamentos de valores semelhantes em cidades como Paris, Londres ou Nova York. Ao longo da última década, o número de empreendimentos desse porte quintuplicou na capital paulista (leia quadro). E existe demanda para muito mais.

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NO TOPO
O Adolpho Lindenberg, em São Paulo, é o maior apartamento do País, com 1.223 m2
e preço de R$ 16 milhões. O salão principal (acima) tem 5,5 metros de pé-direito e acesso
à sala de cinema (porta menor). Da banheira (abaixo), uma bela vista

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Uma das explicações é óbvia: aumentou o número de ricos no Brasil. “O dinheiro mudou de mão e hoje muito mais gente se encaixa no padrão luxo”, confirma Fernando Sita, diretor-geral da Coelho da Fonseca, uma das mais tradicionais empresas de vendas de imóveis com foco no segmento de alto padrão. Além disso, nos últimos três anos, as incorporadoras se voltaram para a classe média, que passou a ter mais acesso a financiamento habitacional, e o ritmo de lançamentos dos superapartamentos diminuiu. Por fim, não é fácil encontrar terrenos generosos em boas localizações de cidades populosas como São Paulo e Rio de Janeiro. O resultado é a alta procura pelos imóveis top de linha e pouca oferta na praça.

Prova disso é o sucesso do lançamento Parque Cidade Jardim, da JHSF, na capital paulista. O projeto completo só fica pronto em 2012. No entanto, todas as unidades das seis torres residenciais foram vendidas. Faltam ainda mais três torres. O condomínio inclui apartamentos que variam de 235 metros quadrados até 1.885 (as coberturas). Os preços começam em R$ 2,5 milhões, mas podem chegar a R$ 15 milhões. Ele foi construído em cima do shopping Cidade Jardim, o mais luxuoso da cidade. “Este conceito é a tendência do momento. Numa cidade caótica como São Paulo, ter um shopping integrado ao condomínio facilita tudo”, aposta Celso Pinto, da Sotheby’s Brasil.

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Há quatro anos no ramo de imóveis de luxo no Rio de Janeiro, o corretor Fábio Brune diz que a procura tem crescido desde 2008. “Mas acredito que estamos no auge”, avalia. Brune trabalha principalmente com apartamentos na Barra da Tijuca, uma região de alta valorização. “Nos eventos internacionais que o Rio de Janeiro vai sediar nos próximos anos, a maior parte dos projetos de melhoria e modernização está na Barra”, explica ele. Porém, endereços mais tradicionais como as avenidas Vieira Souto, na praia de Ipanema, e Delfim Moreira, de frente para o mar do Leblon, continuam ostentando o título de metro quadrado mais caro do Brasil. “Isso porque novos empreendimentos nessa área são raríssimos”, diz o corretor Jorge Costa Neves.

O cliente da mansão suspensa é bem exigente. Mais do que amplitude e muitas vagas na garagem, ele quer segurança, mimos como espaço gourmet e adegas, tecnologia – piso aquecido e iluminação inteligente – e uma ótima localização. Uma vista privilegiada também é desejável. No Residènce de Mônaco, na Barra da Tijuca, os apartamentos de fundo que não têm o mar diante de suas janelas ganharam um rio artificial para ser apreciado. Com apartamentos de 390 metros quadrados a um valor de R$ 5,7 milhões, o edifício seduz o cliente pela quantidade de áreas de lazer, que vão muito além da piscina e do playground. Há sala de artes marciais, outra de Pilates, uma praça de contemplação e até garage band. Segundo Sita, da Coelho da Fonseca, o conceito de construção sustentável também começa a seduzir o milionário brasileiro. “Ninguém pergunta se as madeiras utilizadas são de reflorestamento, mas, quando nós dizemos que o apartamento tem o selo verde, eles se encantam”, conta.

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LUXO
Este apartamento no Parque Tangará, em São Paulo, tem 1.034 metros
quadrados e custa R$ 10 milhões. A apresentadora Ana Maria Braga é dona da cobertura

O perfil dos compradores inclui presidentes de bancos, donos de laboratórios, de faculdades, industriais e herdeiros de grandes fortunas. No Rio, há um número elevado de proprietários estrangeiros. “É uma gente discreta, que detesta aparecer e gosta de ter sua intimidade preservada”, conta o corretor Diego Delbone, da Sotheby’s. “De vez em quando aparecem uns artistas e jogadores de futebol que tiram o sono dos vizinhos anônimos.” Todos os moradores do Parque Tangará, no Panamby, em São Paulo, onde um imóvel de 1.034 metros quadrados está à venda por R$ 10 milhões, vivem sob os holofotes de sua mais ilustre moradora, a apresentadora Ana Maria Braga.

As super-residências verticais são uma tendência em países emergentes, como China e Rússia, e em árabes onde sobram petróleo e extravagância. “Nas nações desenvolvidas, acontece o contrário. Quanto menos ostentar, melhor”, diz Luiz Paulo Pompéia, da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp). De acordo com Sita, os milionários de cada país têm gostos diferentes conforme a cultura e a oferta local. “Os franceses pagam 2,2 milhões de euros (R$ 7 milhões) em um apartamento de 100 metros quadrados na Place Vendôme porque, para eles, o importante é respirar história”, analisa. “Já para os americanos, mais relevante que o tamanho é a tecnologia oferecida.” Por enquanto, os brasileiros querem luxo – e muito espaço.

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MERCADO
Um imóvel no Residènce de Mônaco, na Barra
da Tijuca, no Rio de Janeiro, custa R$ 5,7 milhões.
A Olimpíada impulsiona o bairro



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