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O Brasil venceu o Zimbábue por 3×0 em um amistoso de preparação para a Copa do Mundo, na quarta-feira 2, com Kaká, sua principal estrela, atuando apenas meio tempo. A comissão técnica avaliou que ter o camisa 10 o jogo todo em campo não seria adequado, uma vez que ele não se encontrava em plena forma física. Faz 30 anos, desde que a fisiologia entrou na pauta do futebol, que talento não é garantia de sucesso nesse esporte. “Hoje, é preciso que o craque seja atleta”, afirma o fisiologista Turíbio Leite Barros, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Seria impensável em outros momentos da história do futebol o camisa 10 da Seleção ficar de fora de uma partida apenas por não estar com o fôlego em dia. Mas isso, hoje, é a regra. Em 1970, o fumante inveterado Gérson foi campeão mundial valendo-se muito mais de sua técnica. Naquela época, porém, o jogo era mais cadenciado. Um jogador percorria, em média, 8 quilômetros durante os 90 minutos. Por isso, havia espaço para profissionais como Gérson – que, comenta-se, jogava com o cigarro debaixo do meião. Atualmente, a distância percorrida em uma partida é de 13 quilômetros (leia quadro).

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A evolução da preparação física é a principal responsável pela transformação do jogador em atleta. Se antes o time todo se exercitava junto, numa espécie de coreografia, agora o corpo de cada um é trabalhado individualmente depois de ser avaliado por modernos aparelhos eletrônicos. Desse modo, atualmente, um jogador sustenta uma velocidade média de 15 km/h durante uma partida, 17% maior do que três décadas atrás. Mais: capta de seus pulmões 65 ml/kg/min. (mililitros por quilo por minuto) de oxigênio e os transforma em energia, 20% a mais que em 1980. Quanto maior a captação de oxigênio, melhor o condicionamento físico da pessoa.

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Com jogadores mais condicionados, velozes e percorrendo distâncias maiores, o ritmo das partidas ficou mais rápido. E o artista da bola, cujo diferencial é a criatividade e não a força, foi saindo de cena. “O Romário é o último remanescente dessa espécie”, diz Barros, da Unifesp. “Pouco antes de encerrar a carreira ele não percorria mais do que quatro quilômetros durante a partida. Mas resolvia.”

Para o ex-jogador Sócrates, figuras como o ex-atacante campeão do mundo em 1994 só terão espaço, hoje, se o jogo for “nove contra nove”. Excluir jogadores ou aumentar o tamanho do campo podem dar asas ao talento e frear parcialmente as fábricas de jogadores de futebol espalhadas mundo afora. “Empresários de clubes do Exterior me ligam pedindo jogadores altos e fortes”, conta o fisiologista da Unifesp Renato Romani, proprietário do Rio Claro Futebol Clube. “É uma commodity. Eles ligam com a especificação do produto.” O talento, como se vê, não está mais na frente da vitrine.

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