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BRIGA PÚBLICA
Dois anúncios da associação de classe dos médicos reclamam dos planos

Médicos e planos de saúde estão em pé de guerra. A insatisfação da turma do jaleco é enorme. Eles reclamam dos preços pagos pelas consultas, do reajuste dos honorários abaixo da inflação nos últimos dez anos e denunciam que alguns planos ainda usam como referência a tabela de 1992. Na semana passada, a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), que tem nove mil associados, decidiu publicar anúncios cobrando o aumento das consultas de R$ 25 para R$ 100 e dos valores pagos pelos partos de R$ 200 para R$ 1 mil. Se não chegarem a um acordo até outubro, ginecologistas e obstetras vão parar de atender os planos em São Paulo. A ameaça é inspirada na paralisação dos pediatras em Brasília, entre setembro do ano passado e fevereiro deste ano, que forçou as operadoras a sentar e negociar um aumento de R$ 24 para R$ 90. O presidente da Sogesp, César Fernandes, explica que não é uma campanha mercantilista, mas de sobrevivência. “Hoje, a pessoa que filma um parto ganha cinco vezes mais do que o médico. Não quero desmerecer outras profissões, mas mostrar a desvalorização da carreira de obstetrícia”, diz Fernandes, com apoio do presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), Cid Carvalhaes.

A greve anunciada é apenas o início dos problemas para as operadoras de planos de saúde, que movimentam R$ 16 bilhões por ano. No início de julho, Carvalhaes vai assumir a presidência da Federação Nacional dos Médicos e promete promover um debate em todo o Brasil. Segundo ele, os planos de saúde aumentaram suas tabelas em torno de 160%, enquanto os médicos tiveram um reajuste de 58% nos últimos dez anos. “Para agravar, a Agência Nacional de Saúde (ANS) não faz a regulação do setor como deveria fazer”, reclama Carvalhaes. Isso explica por que, no meio médico, o sonho é atingir status suficiente para atender apenas pacientes particulares, como faz o obstetra Maurício Mendes Barbosa, 43 anos. Ele afirma que há uma evasão dos profissionais mais experientes dos registros com planos de saúde. “A maioria dos médicos mais especializados só atende consulta particular. Nos últimos dois ou três anos, vi uma debandada geral.”

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“A maioria dos especialistas só quer atender particulares”
Maurício Mendes Barbosa, médico

Membro do Conselho Federal de Medicina, Aloísio Tibiriçá Miranda é o responsável pela relação com os planos de saúde e alerta justamente para a redução na rede credenciada, em prejuízo dos pacientes. “As operadoras alegam que seus gastos médicos representam 85% dos custos, mas não é verdade. Não chegam a 14%”, diz ele. Mas de acordo com Solange Beatriz Mendez, diretora-executiva da FenaSaúde, qualquer reajuste no pagamento feito aos médicos será automaticamente repassado ao consumidor.No meio da queda de braço, a ANS criou uma comissão que desde fevereiro tenta casar os interesses de médicos e planos de saúde. Qualquer que seja o resultado tudo indica que quem vai pagar mais caro será o usuário.