REBANHO DA CIÊNCIA Leite leve, sem o sabor forte ou gorduroso

As vacas não são mais as mesmas. São melhores. Elas já têm capacidade de produzir leite sem gordura, do tipo desnatado. Aliás, as vacas têm contribuído cada vez mais com a ciência e a saúde do homem. Bastou que se interferisse em um de seus genes para que elas passassem a produzir também o mais vital dos medicamentos para diabéticos – a insulina. Novo leite e remédio, pois bem. Esses experimentos vêm de laboratórios da Nova Zelândia e da Argentina, e a ferramenta científica utilizada em ambos os casos é a mais revolucionária no campo da biologia. Trata-se da biotecnologia, aplicação tecnológica que se vale de sistemas e organismos vivos para alcançar alterações genéticas. Foi através dessas alterações que se chegou à "vaca desnatada" e à insulina.

Foi por acaso, assim como por acaso já aconteceram grandes descobertas: um funcionário de uma fazenda na Nova Zelândia, ao ordenhar uma vaca apelidada de Marge, resolveu provar o leite. Surpresa: ela estava produzindo um leite leve, sem o sabor forte e gorduroso da nata. Imediatamente a amostra foi enviada para o laboratório de biotecnologia chamado ViaLactia e os cientistas comprovaram o que parecia impossível: a vaca produzira leite desnatado, com pouca gordura saturada. "Queríamos entender como aquilo era possível. Cogitamos da possibilidade de haver ingredientes diferentes na ração", diz Russel Snell, chefe do departamento científico do laboratório. Após a análise de diversas amostras, Snell concluiu: o segredo de Marge não estava no leite, mas sim em seu sangue, mais especificamente em sua linhagem genética. Foram então estudados quatro milhões de cabeças de gado no país para o mapeamento de genes e, assim, se chegar ao responsável pelo leite desnatado. Industrialmente, esse tipo de alimento, mais saudável, é obtido através da remoção da nata gordurosa – apenas 25% do que é consumido atualmente na Grã-Bretanha, por exemplo, é integral. Com os resultados das pesquisas, os cientistas da ViaLactia investiram na possibilidade de criar vacas geneticamente modificadas, ou seja, com a tal mutação de gene da qual Marge é portadora. Deu certo.

Descoberta igualmente importante vem das bezerras da raça jersey, alteradas geneticamente pela empresa argentina Biosidus. Nascidas entre fevereiro e março deste ano, elas possuem em seu DNA o gene percursor da insulina humana. Os cientistas inseriram um gene humano, correspondente a esse gene animal, em um embrião de vaca que funcionou como "mãe de aluguel". O resultado é que de seu leite é possível extrair insulina. "Esse tipo de produção de insulina a partir de leite de vaca permitirá reduzir em 30% os custos no mercado", diz o diretor-executivo da empresa, Marcelo Criscuolo.