MAKING OF Gisele posa para o catálogo de verão da Colcci no Rio

Qualquer rumo que tomasse na vida, Gisele Bündchen seria a número 1. É a própria modelo quem tem tal certeza, justamente ela que há dez anos se encontra no degrau mais alto do mundo da moda. Aos 26 anos, a brasileira continua detentora de um título único: é übermodel, um patamar acima das demais modelos. Gisele só não esteve no topo na estréia da carreira. Em 1994, aos 14 anos, ficou em segundo lugar no concurso The Look of the Year. Nunca mais foi vice. “Em tudo que fizer na vida vou tentar ser a melhor”, disse Gisele, em entrevista exclusiva à ISTOÉ (leia ao lado os principais trechos). Algumas horas antes de desfilar para a Colcci no Fashion Rio, na terça-feira 5, ela abriu o jogo sobre as razões do seu sucesso, enquanto se munia de xale, bombons e um aquecedor para espantar o frio na suíte do Copacabana Palace.

Alguns fatores explicam a longevidade de Gisele em uma carreira que se conta em anos e não em décadas: profissionalismo, dedicação, carisma e tino para se reinventar. Ela traz de berço alguns diferenciais. “Era 100% comprometida na escola. Fui educada assim. Só queria tirar ‘A nas provas’”, recorda- se Gisele, que é nota 10 entre as tops e faz parte do time das 20 mulheres mais ricas do show biz. No ranking de 2006 da Forbes, figurou na 16a posição, com faturamento de US$ 70 milhões, à frente de estrelas como Nicole Kidman. “Desde muito nova Gisele sabia onde queria chegar, tinha como objetivo ser uma grande modelo. Sempre foi determinada, não se abalava com as dificuldades do início da carreira”, conta Simone Laskani, diretora da Elite Model, a primeira agência a contratá-la. “Meu sucesso se deve ao meu profissionalismo”, diz Gisele, que se orgulha de nunca chegar atrasada para um trabalho.

A dedicação de Gisele impressiona os profissionais que a cercam e, principalmente, quem a contrata. Com a palavra Alexandre Menegotti, diretor-presidente da Colcci, grife que desembolsa em torno de US$ 80 mil por temporada, segundo dados do mercado, para ter Gisele como garota-propaganda: “Seu profissionalismo me surpreendeu porque ela tem uma preocupação com a marca, com a roupa que está vestindo, se o produto está bem colocado na foto. Gisele questiona e preocupase com o resultado da empresa. Isso não é comum.” É incomum também o controle que a brasileira tem sobre o próprio ofício. “Gisele sabe exatamente como ser fotografada. É ela quem dirige a cena”, completa o publicitário Erh Ray, diretor-presidente da agência Borghi Erh/ Lowe, que trabalhou com a top na campanha da joalheria Vivara.

Gisele Bündchen ainda tem sorte. Despontou na hora certa. “O mercado publicitário estava carente de uma imagem, de um ídolo, de alguém que despertasse o desejo. Gisele reúne glamour e jovialidade”, diz Erh Ray.

Com a pele dourada e a aparência saudável, a gaúcha caiu nas graças dos anunciantes e dos editores de moda. “Seu visual sexy é o que a torna diferente de todas”, disse à ISTOÉ Michael Roberts, diretor de moda e estilo da revista americana Vanity Fair.

 

Ciente de suas armas, a top é craque em se reinventar. Depois de chegar a fazer 150 desfiles em uma temporada, ela anunciou a aposentadoria das passarelas em 2001. Passou a fazer desfiles exclusivos, como os da Colcci. Ás vezes, desfila para amigos, como fez com a dupla Dolce & Gabbana, em Milão, no início do ano.

A Gisele estrela máxima das passarelas cedeu espaço para a Gisele dos contratos milionários. O maior deles foi com a grife americana Victoria’s Secret, uma parceria que lhe rendia US$ 5 milhões anuais e acaba de ser encerrada. Enquanto as modelos de todo o mundo almejam o posto de Angel da grife americana de lingerie, Gisele se deu ao luxo de sair do time de beldades. Com o fim da parceria de seis anos, foi escalada para criar uma linha de lingerie para a rede H&M, em outro lance ainda mais vantajoso de uma modelo que também já se aventurou no cinema (leia quadro abaixo).

MAKING OF Gisele posa para o catálogo de verão da Colcci no Rio

" SEMPRE RESPEITEI O TEMPO DOS OUTROS. NUNCA CHEGUEI ATRASADA A UM TRABALHO "

“Depois de um trabalho, as pessoas sempre vêem me dizer o quanto a Gisele é carismática”, conta Patrícia Bündchen, sua empresária no Brasil e irmã gêmea. O diretor de moda da Vanity Fair reconhece que o comportamento da brasileira é algo raro no meio fashion. “Gisele é muito simpática, tem personalidade e nada de estrelismo. Isso não acontece com outras modelos, que passam o tempo todo grudadas ao celular”, diz Michael Roberts. Para completar, ela ainda agrega glamour na vida pessoal. Depois de um namoro de cinco anos com o astro Leonardo DiCaprio, está apaixonada por um galã dos esportes. Há seis meses, começou a namorar Tom Brady, um dos melhores jogadores de futebol americano de todos os tempos. Um par perfeito para a número 1.

“EM TUDO QUE FIZER NA VIDA VOU TENTAR SER A MELHOR”

Se foge às perguntas de cunho pessoal, Gisele Bündchen solta o verbo quando fala de suas conquistas. Surpreende ao dizer que faz sorteio para tomar decisões e que inveja os cílios da irmã gêmea, Patrícia.

ISTOÉ – Como faz suas escolhas?
Gisele –
Não sei se as decisões que tomo são as melhores, mas sigo meu instinto. Penso assim: o que vai me fazer feliz? Há várias coisas que levo em consideração: qual é o tipo da marca, se quero colocar o meu nome associado a ela, quem são as pessoas com quem vou trabalhar. Se falo sim para um contrato, é sim para aquelas pessoas.

ISTOÉ – Por que não renovou o contrato com a Victoria’s Secret?
Gisele –
Trabalho há 12 anos, desde os 14, e hoje tenho sorte de poder escolher. Alguns trabalhos exigem muito meu tempo. Às vezes, está tudo certo, como no caso da Victoria’s Secret, mas não podia mais dar esse tempo.

ISTOÉ – Quem a aconselha?
Gisele –
Eu mesma. A minha família é importante, em decisões pessoais. Quando se trata de trabalho, não é justo dar essa responsabilidade para eles. É engraçado, mas, quando tenho que tomar uma decisão importante, o que já fiz várias vezes foi escrever “sim” e “não” em dois papéis e colocar dentro de uma xícara. Aí, medito: por favor, universo, me ajude a ver o que preciso ver aqui. E tiro o papel. Se é não, falo não. Se é sim, eu aceito.

ISTOÉ – O que a faz diferente das outras?
Gisele –
Sempre fui muito profissional e respeitei o trabalho dos outros, o tempo dos outros. Nunca cheguei atrasada para um trabalho. Só quando o vôo atrasa.

Aí, tenho duas opções: posso ficar de mau humor ou posso fazer meu trabalho direito, já que estou ali para isso e ninguém tem culpa do que aconteceu. Meu sucesso se deve muito ao meu profissionalismo. Você nunca vai ouvir de um cliente que a Gisele começou a reclamar ou que chegou cinco horas atrasada e não quis fazer o trabalho. Vejo outras modelos no trabalho reclamando da vida.

ISTOÉ – Sempre foi assim?
Gisele –
Era 100% comprometida na escola. Fui educada assim. Só queria tirar “A” nas provas. Competia com a Patrícia e a gente estudava até as cinco da manhã. Se vou limpar minha casa, limparei melhor do que qualquer pessoa. Se for fazer um bolo, quero fazer o melhor.

Em tudo que fizer na vida vou tentar ser a melhor. Meu tempo é tão precioso que se for me dedicar a alguma missão, pequena ou grande, tenho que me dedicar 100%.

ISTOÉ – O que inveja na sua irmã gêmea?
Gisele –
Sou muito mais explosiva do que ela. Ela é mais paciente e controlada. Sou mais emoção. Ela também têm os cílios lindos, de boneca. Sempre falo: “Patrícia, me dá esses cílios, sua pimpolha!”

ISTOÉ – Você foi vista lendo Allan Kardec. Virou espírita?
Gisele –
Fui criada numa família católica. Acredito em Deus, em reencarnação e que estamos aqui para evoluir. Acredito na lei do retorno. O que você faz, um dia volta. Deus está vendo tudo.