CASAL A soprano e Aristóteles Onassis no dia em que se conheceram

Em 1953, a soprano norte-americana Maria Callas cansou de sua silhueta de 108 quilos e surgiu, um ano depois, 30 quilos mais magra. Na época, seu emagrecimento repentino causou polêmica. Os críticos diziam que tinha interferido de modo negativo em seu canto. Os entusiastas falavam que seu corpo esbelto havia conferido mais leveza e novos tons à coloratura de sua voz. Independentemente de quem estava certo, essa passagem ilustra uma faceta pouco conhecida da maior soprano de todos os tempos. Filha de gregos que imigraram para os Estados Unidos, Callas era uma gourmet. Gostava de inventar receitas, de cozinhar e, principalmente, de comer – o que lhe trazia eventuais brigas com a balança. Curiosidades como essas, além de detalhes de 160 pratos inesquecíveis da cantora – todos minuciosamente explicados -, estão no livro A paixão secreta de Maria Callas – histórias, receitas e sabores. A obra é organizada por Bruno Tosi, presidente da Associação Cultural Maria Callas de Veneza, e chega ao Brasil nos próximos dias pela editora Mercuryo – Novo Tempo (208 págs., R$ 43).

O livro traz receitas organizadas pela própria cantora ao longo dos anos, com recortes de revistas femininas e jornais e os caminhos para recriar pratos inventados por ela e outros feitos especialmente para ela. Callas passava horas na cozinha a ponto de seu marido e empresário italiano Giovanni Batista Meneghini referir-se a ela como obsessiva pelas panelas.

"Cozinha é a arte da invenção; quem ama cozinhar, ama criar", respondia Callas. Entre os chefs que cozinharam para ela estão Rolando Lami, Nicola Rosato e Arrigo Cipriani. Estão no livro também alguns pratos criados pelo mordomo da família do armador grego Aristóteles Onassis, Ferrucio Mezzari, e pelo cozinheiro do iate do milionário, Mario Zorzetto – o que remonta à relação de Maria com Onassis, sua grande paixão.

Os dois se conheceram em um jantar no restaurante Daniel, em Veneza, na Itália, em 3 de setembro de 1957. O menu da noite e a foto desse encontro, inclusive, estão no livro – recheado de boas histórias e belas imagens. Nessa, ela aparece animada com a conversa e ele, de venda nos olhos. O casal assumiu o relacionamento dois anos depois e eles só terminaram quando Aristóteles a trocou por Jackie Kennedy – episódio jamais engolido por Callas. Entre os pratos estão "anara fredda com polenta calda" (galinha fria com polenta quente) e "baccalà alla veronese" (bacalhau à veronsa). Como se vê, são receitas basicamente italianas, mais especificamente da região do Vêneto.

A obra não fala só de comida. Faz uso do tema como pretexto para contar um pouco da personalidade e dos feitos de Maria Callas a partir do ponto de vista de pessoas que conviveram com ela. O maestro José Rescigno, diretor da Ópera de Florença, fala sobre a postura, o gestual e o olhar hipnótico dela.

"Ela foi a mais bela figura que vi em cena", diz. A paixão secreta de Maria Callas – histórias, receitas e sabores é a oportunidade de descobrir um pouco da mulher por trás da diva.