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RUMO LESTE
Após o ataque às Torres Gêmeas, nos EUA,
Julia aprendeu persa e foi para o Egito

O nome da cineasta carioca Julia Bacha começa a despontar no time de diretores brasileiros reconhecidos no Exterior. Aqui, poucos sabem disso. Mas o fato é que essa documentarista de 29 anos, filha do economista Edmar Bacha, diretor do Banco Central no governo FHC, e da vereadora Andrea Gouvêa Vieira (PSDB-RJ), faz sucesso no mercado internacional. Seu terceiro filme, “Budrus”, acaba de receber o segundo prêmio do público no Festival de Berlim e, também, uma menção honrosa no Tribeca Film Festival, em Nova York, cidade onde ela vive. O nome do longa refere-se a um povoado palestino cujos moradores se uniram pela mudança no traçado de um muro israelense que dividiria o lugar. “As pessoas chegaram a um nível de confiança em que não importa se você pertence ao Hamas, ao Fatah, se é palestino, israelense, mulher ou homem. Elas superaram diferenças políticas e se uniram em torno de uma causa”, disse a cineasta.

O fato que chamou sua atenção para aquela região é o mesmo que também fez o mundo todo olhar para as questões palestinas: o atentado ao World Trade Center, em Manhattan, em setembro de 2001. Julia planejava ser advogada e tinha se mudado para os EUA com o objetivo de estudar inglês e voltar, no ano seguinte, para o curso de direito da PUC do Rio de Janeiro. Porém, o episódio terrorista subverteu os seus planos. A jovem aprendeu o idioma persa e viajou para o Egito, onde morou enquanto esperava a resposta de sua inscrição em um mestrado no Irã. Por uma dessas coincidências que desenham destinos, Julia foi apresentada à cineasta egípcia-americana Jehane Noujaim, que precisava de um especialista em Oriente Médio para ajudá-la a editar o documentário “Control Room”. Julia não só editou o filme como assinou o roteiro. A produção faturou US$ 2,5 milhões de bilheteria nos EUA e rendeu à carioca o convite para integrar a Just Vision, ONG voltada para a divulgação de soluções pacíficas entre Israel e Palestina.

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ENGAJADA
Cena de “Budrus”: retrato da miséria e da resistência palestinas

Julia deixou uma vida de conforto no Rio de Janeiro por uma carreira incerta no Exterior. Mas não surpreendeu seus pais. “Ela sempre foi aventureira. Com 19 anos, atravessou Cuba de bicicleta”, recorda Edmar Bacha. A mãe conta que, após um encontro entre Julia e o então governador de São Paulo, José Serra, ele disse: “Julia tem a inteligência do pai e a impaciência da mãe.” O novo projeto da cineasta é um documentário sobre advogados israelenses que defendem palestinos que vivem em Jerusalém Oriental. Mais uma investida em um cinema sem fronteiras.