CPI Demóstenes não abre mão de investigar a Infraero

Seja como presidente do PT, candidato à Presidência da República ou presidente do Brasil, nos últimos 13 anos Luiz Inácio Lula da Silva sempre teve seus lugares de trabalho ornados com lírios brancos e cravos vermelhos. E, nos últimos 13 anos, quem escolheu pessoalmente as flores foi sua secretária particular, Mônica Zerbinato. Nem mesmo o envolvimento do marido, Osvaldo Bargas, no escândalo da compra do dossiê contra os tucanos, no ano passado, chegou a abalar o cargo de Mônica no Palácio. Na terça-feira 5, porém, ela trocou de emprego. Começou a trabalhar no Setor Bancário Norte de Brasília, como chefe de gabinete na Agência de Promoção de Exportações e Investimentos. A mudança do local de trabalho foi discreta, mas carrega consigo uma boa explicação. É que, na mesma semana em que Mônica deixou o Palácio, chegaram a Brasília e começaram a circular no Ministério Público e na CPI do Apagão Aéreo as cópias dos cinco depoimentos que a empresária Silvia Pfeiffer prestou à Polícia Federal no Paraná. Em suas declarações, a empresária aponta para uma suposta participação de Mônica em irregularidades na Infraero, com o intuito de arrecadar dinheiro para o PT.

A troca de emprego de Mônica é uma tentativa de tirar o Palácio do caminho da CPI do Apagão, onde, apesar do esforço dos parlamentares governistas, as irregularidades cometidas na Infraero serão abordadas. “Vamos entrar com todo o gás na Infraero”, avisa o relator da CPI, senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Silvia Pfeiffer deve depor dentro de duas semanas na CPI e, se reafirmar o que já dissera a ISTOÉ e confirmou na PF, poderá levar a própria Mônica a também se explicar. Em 11 de maio, Silvia assegurou ao delegado Flúvio Cardinelli Oliveira Garcia que o empresário Valter Samara, amigo pessoal de Lula, lhe prometeu facilitar negócios junto à Infraero, por intermédio de Mônica, em troca de 10% de propina para o partido do presidente. De acordo com o depoimento, na primeira quinzena de novembro de 2004 Silvia viajou com Samara no mesmo avião para Brasília e este a convidou para um churrasco no Lago Norte. Na festa, Samara avisou que Silvia poderia procurar “Mônica Bargas”, para que a secretária particular de Lula “interviesse junto à Infraero a fim de facilitar concessões de publicidade”. O churrasco ocorreu em uma casa alugada pela Associação dos Notários e Registradores do Brasil, que representa os cartórios.

Depoimento de Silvia Pfeiffer na PF envolve a secretária
Mônica com arrecadação para o PT

Samara, que é dono de cartório em Ponta Grossa (PR), confirma alguns capítulos da história contada por Silvia, mas apresenta um novo enredo. O empresário diz que se encontrou com Silvia no Aeroporto de Curitiba e viajou com ela no mesmo avião para Brasília. Silvia, diz ele, ia resolver problemas ligados à Infraero. “Ela não tinha dinheiro para pagar a conta do hotel, para tirar a bagagem dela que estava no hotel”, diz Samara. “Eu tinha uns 200, quase 300 reais no bolso, peguei e dei para ela”. Afinal, onde entra Mônica nessa história contada por Samara? O empresário diz que Silvia reclamou de um problema no braço, “meio amortecido”, e precisava de uma consulta médica. “Foi aí é que veio a história da Mônica”, diz Samara. “Eu falei para ela: ‘Olha, tem uma amiga minha que pode te arrumar lá no hospital Sara Kubitschek.’” O empresário nega que Mônica tenha sugerido abrir as portas da Infraero para negócios escusos. “Para dar dinheiro para o PT, nunca seria a Mônica”, conclui Samara. “A pessoa para isso seria o Delúbio, o presidente do PT, que na época era o Genoino, o José Dirceu, qualquer um desses caras, menos a Mônica.” A ex-secretária de Lula, procurada por ISTOÉ, afirmou que nada iria declarar sobre o assunto. Para tirar essas dúvidas e desvendar os segredos da Infraero, o Ministério Público Federal está montando uma força- tarefa com o TCU e a CPI do Apagão no Senado. O representante do Ministério Público no TCU, Lucas Furtado, declarou que a Infraero “é uma caixa-preta em todos os sentidos”. Já foram identificadas irregularidades em obras da Infraero em dez Estados. O MP está rastreando as empresas que dividiram o mercado superfaturado das obras da Infraero no País. Até a Gautama de Zuleido Veras ganhou obra.