DÁRCIO DE JESUS "Foi um ímpeto juvenil para que eu voltasse mais cedo para casa." Essa é a explicação que o ex-assessor especial de Obras no Paraná, Luiz Caron, dá para a carta que o seu filho, Guilherme Richter Caron, enviou há dez dias ao colunista Paulo Pimentel, do jornal O Estado do Paraná. As declarações bombásticas de Guilherme levaram o assessor a pedir demissão no dia 1º de junho. No documento, o rapaz afirma que seu pai vinha sendo intimidado e pressionado a deixar a secretaria por não concordar com os esquemas de corrupção no setor. A principal tentativa de intimidação, segundo Guilherme, aconteceu na cerimônia de posse de Roberto Requião (PMDB), no dia 1º de janeiro deste ano, quando o governador humilhou publicamente Luiz Caron – secretário de Obras na época – apenas por "não concordar com a colocação de divisórias no seu gabinete". A reprimenda fez com que Caron pedisse exoneração da secretaria e aceitasse, de cabeça baixa, o cargo de assessor especial. "Tem muito mais coisa por trás dessa explosão desnecessária", afirma Guilherme. Segundo ele, a idéia era forçar um pedido de exoneração. "Meu pai era muito competente, honesto, querido pelos escalões menos valorizados do governo e tinha uma ótima relação com a imprensa. Seria difícil justificar sua demissão."

Guilherme diz ainda que, desde então, sua família vem recebendo ameaças, feitas por funcionários do governo paranaense. Já Luiz Caron diz estar "chateado" com a intromissão do filho na sua vida profissional e garante que as acusações não são verídicas. "Tenho uma ótima relação com Requião, somos grandes amigos. Não existe corrupção na secretaria. As ameaças que ele recebeu foram originadas em presídios", disse o ex-assessor a ISTOÉ. Mas Guilherme garante ter recebido e-mails, telefonemas e cartas, além de ter sido abordado na rua pela mesma pessoa que falava nas ligações. "As ameaças existiram, sim, e não acredito que tenha sido um golpe de penitenciária."

Depois disso, temendo por sua segurança, Guilherme – que também já fez parte da equipe do governo como coordenador da Secretaria de Turismo – mudou- se com a família para o litoral de Santa Catarina. Guilherme também nega que a relação do seu pai com Requião tenha ficado incólume. "Conheço meu pai e sei perfeitamente quanto ele se decepcionou naquele episódio." Luiz, com a saúde abalada depois de cirurgias no intestino e na coluna, não quer mais saber de política. "Vou me dedicar ao que sei fazer melhor; engenharia." O presidente municipal do PMDB, Doático Santos, qualifica a atitude de Guilherme como "revanchismo" pelo fato de ele não ter tido mais oportunidades quando fez parte da secretaria.

Quanto à possibilidade de crise familiar depois de suas declarações, Guilherme mostra-se tranqüilo. "Se meu pai tem alguma mágoa comigo, tenho certeza que será esquecida com o tempo. Fiz o que era melhor para ele."

DUAS VERSÕES
DÁRCIO DE JESUSO pedido de demissão de Luiz, depois da denúncia de Guilherme

"O senhor haverá de compreender o conflito entre o pai e o profissional (…) Permanecer em sua equipe será continuar propiciando instrumentos de provocação diária, ocasionando o desgaste da nossa relação." em família Luiz Caron a Roberto Requião

"Meu pai, infelizmente, não saiu do governo quando foi ofendido pelo desvairado. Os motivos daquele ataque de nervos do governador não foi apenas por causa das divisórias."
Guilherme Caron a Paulo Pimentel