O ex-presidente da República Tancredo Neves dizia que a política é como as nuvens: um dia está aqui, amanhã, acolá. A frase do político mineiro continua atual. Na última semana, o ex-governador tucano Geraldo Alckmin – que desembarcou em São Paulo depois de uma temporada de quase quatro meses de estudos nos EUA – deixou claro, mais uma vez, que a cada momento a política assume um formato diferente. Candidato derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais do ano passado, Alckmin chega disposto a disputar a Prefeitura de São Paulo, atropelando os acordos firmados pelo governador José Serra (PSDB) com o atual prefeito, Gilberto Kassab (DEM). Estrategicamente, Alckmin deixa no ar a decisão de disputar a presidência nacional do PSDB, em novembro.

A intenção de Alckmin de candidatar-se à prefeitura paulistana coloca Serra em situação desconfortável. Para consolidar seu projeto de se candidatar à Presidência, Serra trabalha em duas frentes: tenta eleger o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) para chefiar os tucanos; e reeleger Kassab em São Paulo, para manter a dobradinha com os democratas na sucessão de Lula. Os planos de Alckmin interferem diretamente nessa estratégia. E, se Serra reagir, o ex-governador poderá desembarcar com seu prestígio em favor do governador mineiro, Aécio Neves, também pré-candidato à sucessão de Lula.

ALCKMIN RETORNA DOS EUA DECIDIDO A DISPUTAR A PREFEITURA DE SÃO PAULO E PODE ATRAPALHAR SERRA

Para garantir sua força partidária e fortalecer a oposição a Lula, Alckmin começará a percorrer o Brasil em caravanas. “É fundamental para o Brasil ter uma boa oposição, que cobre, que fiscalize. Vou me incorporar como soldado a esse trabalho”, disse Alckmin, imitando as “caravanas da cidadania” do candidato Lula. Desorientados na oposição, os tucanos de alta plumagem já dão como certo que a única alternativa à crise interna do PSDB é eleger o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para presidir a legenda. “O Fernando Henrique tem feito excelentes discursos, mas suas falas não estão encontrando eco na sociedade. Um cargo de direção lhe daria mais propriedade”, diz uma alta liderança tucana. A solução FHC para evitar um racha no partido agrada a Alckmin, não irrita Serra e satisfaz Aécio. Este, que bebeu da sabedoria do avô Tancredo, mineiramente, aguarda o desfecho da briga paulista.