Iguanas capazes de se moverem na água, tartarugas terrestres com mais de 250 quilos e pássaros não encontrados em nenhum outro lugar do mundo – como o mergulhão de pés azuis – chamaram a atenção do naturalista inglês Charles Darwin quando o navio Beagle, no qual percorreu a América do Sul, atracou nas ilhas Galápagos em setembro de 1835. Esses animais ajudaram o cientista a formular a teoria da seleção natural, segundo a qual as diferentes espécies apresentam mutações ao longo das gerações e a luta pela vida faz com que as alterações favoráveis sejam perpetuadas. Hoje, 170 anos depois, a mesma região arrasta 70 mil turistas por ano para as 19 ilhas e mais de 40 ilhotas de origem vulcânica localizadas no oceano Pacífico, a mil quilômetros da costa do Equador. Cerca de 30 empresas realizam roteiros de até sete dias na região, com hospedagem em cruzeiros (uma das melhores opções é o Santa Cruz, da Metropolitan Touring, maior operadora de turismo do país) ou em pousadas localizadas nas ilhas maiores.

Patrimônio natural da humanidade desde 1978, o Parque Nacional de Galápagos receberá mais de 120 mil visitantes ao ano até o final da década, segundo previsão do Fondo Mixto de Promoción Turística del Equador. “Será atingido o limite de visitantes”, adianta o diretor da entidade, Patricio Tamariz Dueñas, contrariando a análise de alguns ambientalistas, para os quais o número de turistas já transcende o tolerável. “Por isso estamos concentrados na divulgação de outros destinos. Muitos americanos e europeus que visitam Galápagos nem sequer desembarcam no continente”, diz.

Em 2005, serão investidos US$ 8,8 milhões em promoção do turismo do Equador
no exterior, dos quais US$ 217 mil no Brasil. Hoje, o Equador recebe 792 mil visitantes por ano, entre os quais dez mil brasileiros. A meta é dobrar esses números até 2008.
O governo busca ainda triplicar o ingresso de divisas por meio do turismo e promete transformá-la na segunda maior fonte de renda do país (atualmente perde para o comércio de petróleo e de bananas). Seu maior trunfo é a diversidade de cenários
em um território tão reduzido. Em 256 mil quilômetros quadrados (o Estado de São Paulo tem 248 mil), é possível conhecer a costa do Pacífico, a Floresta Amazônica e
os mais de 100 vulcões que compõem os Andes equatorianos, muitos deles em atividade. O mais alto é o Chimborazo, com 6.310 metros de altitude, escalado em 1802 pelo viajante alemão Alexander von Humboldt. Vinte anos depois, o gigante inspirou o libertador Simon Bolivar a escrever o famoso texto Meu delírio sobre o Chimborazo, numa época em que ainda não havia ali a cidade de Riobamba. A
fazenda que serviu de hospedagem para Bolivar abriga hoje o restaurante El Delírio, cobiçado ponto turístico da cidade.

Uma ferrovia conhecida como Avenida de los Volcones acompanha a cordilheira. Sobre os trilhos, antigos vagões e modernos bondes movidos a diesel partem de Quito e levam passageiros locais e viajantes estrangeiros por curvas de tirar o fôlego. O barato do percurso é tomar acento no teto do trem: a paisagem compensa o vento frio. O trecho mais interessante liga Riobamba à montanha conhecida como Nariz del Diablo, no vilarejo de Alausi, e custa entre R$ 27 e R$ 100, conforme o trem. Os mais exigentes devem optar pelo Chiva, inaugurado em junho. A novidade possui confortáveis cadeiras sobre o capô, enquanto o máximo de conforto dos demais são estrados de madeira.

Etnias – Percorrer o país é como folhear um livro sobre civilizações ameríndias.
A cada província, roupas e costumes denunciam a diversidade de etnias. Em Cuenca, por exemplo, “cholas” – mulheres de descendência indígena – perambulam pelas
ruas com chapéus de feltro, dentes de ouro e coloridas saias plissadas. Alguns quilômetros ao norte, no município de Ambato, artesãs da etnia salasaca comercializam tapetes e roupas de lã. São os próprios índios cañari, muitos deles estudantes de história, que guiam os visitantes entre construções de seus antepassados no sítio arqueológico de Ingapirca. O vilarejo foi dominado pelos incas em 1480 e totalmente arrasado em 1534, quando chegaram os espanhóis. Já em Otavalo, a maior feira indígena da América do Sul se estende por dez quarteirões, abarrotados de ponchos, xales, tapetes, máscaras, instrumentos musicais e um sem-número de badulaques elaborados com lã e pedra por índios de diferentes origens, os mesmos que vendem frutas, animais e eletrônicos trazidos do Paraguai.

Duas horas ao sul de Otavalo, Quito se reinventa. Há dez anos, o governo deu início
a um processo de recuperação do centro histórico, tombado pela Unesco em 1978. Finalmente, a população pode se orgulhar da luz âmbar que assinala os prédios públicos e do casario colonial preservado entre dezenas de igrejas. Muitas residências foram transformadas em lojas, hotéis e restaurantes. Antigos moradores foram pressionados a trocar o centro por bairros afastados ou conseguiram adequar
suas fachadas ao novo padrão.

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Símbolo da nova Quito é o teleférico inaugurado no sábado 2, na parede oriental do vulcão Pichincha, no centro da capital. Concluído a toque de caixa após um ano de obras financiadas por argentinos, colombianos e equatorianos, tem arrastado mais de duas mil pessoas por dia ao mirante, 4.050 metros acima do nível do mar. Do alto, uma visão privilegiada da capital e dos vulcões Cayambe, Antisana e Cotopaxi, o maior em atividade do mundo, com 5.897 metros. Qualquer sinal de fumaça pode ser traduzido como convite. Vai dispensar?

* Os repórteres viajaram a convite da companhia aérea Taca, do Ministério do Turismo e do Fondo Mixto de Promoción Turística do Equador.


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