31/05/2010 - 11:21
Tripulantes do navio Mavi Marvara, que levava ajuda
humanitária à Faixa de Gaza, filmaram a chegada
dos soldados israelenses em helicópteros
O ataque de comandos israelenses contra a frota internacional que levava ajuda humanitária ao território de Gaza – no qual morreram 19 pessoas – foi alvo de críticas de toda a comunidade internacional.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, declarou estar chocado com o sangrento ataque israelense e pediu ao Estado hebreu que realize uma investigação a fundo sobre o fato. "Estou chocado pelas informações de que há mortos e feridos nos barcos que levavam ajuda a Gaza", declarou Ban a imprensa em Campala, capital de Uganda, onde assiste à abertura de uma conferência sobre a Corte Penal Internacional. "Condeno estas violências. É vital que se realize uma investigação completa", enfatizou.
O Conselho de Segurança da ONU iniciou nesta segunda-feira uma reunião de emergência depois do violento ataque israelense em águas internacionais contra a frota humanitária que se dirigia para Gaza. A reunião começou com uma breve sessão de consultas a portas fechadas e deve ser seguida por um debate público.
Israel "perdeu toda a legitimidade internacional" após seu ataque contra uma frota humanitária pró-palestina em águas internacionais, disse na ONU o chanceler turco Ahmet Davutoglu.
"Isto é homicídio cometido por um Estado", afirmou Davutoglu em reunião pública do Conselho de Segurança da ONU. Segundo o ministro das Relações Exteriores da Turquia, país de onde saíram os barcos com a ajuda humanitária para os palestinos, o ataque "não tem justificativa alguma".
"Um Estado que cometeu esses crimes perdeu toda a legitimidade ante a comunidade internacional", acrescentou o representante turco.
Brasil – O Brasil pediu nesta segunda-feira na ONU o levantamento do bloqueio israelense contra Gaza, após um ataque de Israel contra uma frota que tentava levar ajuda humanitária aos palestinos. O Brasil recebeu "com consternação" a notícia do ataque israelense que deixou uma dezena de mortos, disse a representante brasileira na ONU, Maria Luiza Ribeiro, em uma reunião de emergência do Conselho de Segurança.
A representante brasileira disse que seu governo tenta verificar informações preliminares, segundo as quais havia cidadãos brasileiros em algum dos barcos que integravam a frota atacada por Israel. Uma amiga da brasileira Iara Lee enviou nesta segunda-feira uma carta ao Itamaraty em que solicita o apoio do governo brasileiro na busca por informações sobre a cineasta, que havia decidido participar da frota de ajuda humanitária a Gaza atacada pelo exército israelense.
Lee teria relatado por telefone a colegas no Brasil, na noite de domingo, que as embarcações já estavam cercadas e que o clima era "de medo" entre as pessoas a bordo. A cineasta vinha utilizando o Facebook para fazer comentários sobre a viagem e, algumas vezes, usava um celular via satélite.
EUA – Os Estados Unidos lamentaram o ocorrido. "Os Estados Unidos lamentam profundamente a perda de vidas humanas e o saldo de feridos, e atualmente tentam entender as circunstâncias nas quais aconteceu a tragédia", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Bill Burton, em um comunicado. A ação violenta aconteceu na véspera de um encontro em Washington entre o presidente americano Barack Obama e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.
O presidente Barack Obama disse ao primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu que é importante descobrir o mais rápido possível todos os fatos relativos ao violento ataque das forças israelenses contra a frota internacional humanitária de ajuda aos palestinos.
Os dois líderes falarm por telefone quando Netanyahu cancelou sua visita a Washington, prevista para esta terça-feira, para voltar a Israel para lidar com a crise desatada depois do ataque contra a frota pró-palestina que se dirigia a Gaza.
O presidente francês Nicolas Sarkozy censurou o uso desproporcional da força contra a frota humanitária em Gaza e exigiu que esta tragédia seja esclarecida. "Toda a luz deve ser lançada sobre as circunstâncias desta tragédia, que enfatiza a urgência de reativar o processo de paz israelense-palestino", afirmou o chefe de Estado francês. O ministério das Relações Exteriores convocou o embaixador de Israel em Paris, Daniel Shek, para pedir explicações sobre o ocorrido.
Em Londres, o ministro das Relações Exteriores, William Hague, pediu ao Estado hebreu que ponha fim às "inaceitáveis e contraproducentes restrições impostas às ajudas encaminhadas ao território palestino". "Há uma clara necessidade de que Israel atue com moderação e de acordo com as normas internacionais", declarou.
Tropas de Israel também atacaram
o comboio internacional pelo mar
A Turquia, por sua vez, chamou para consultas seu embaixador em Israel. O vice-primeiro-ministro turco, Bulent Arinc, confirmou que a Turquia pediu uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU e anunciou ter ordenado também que os preparativos para as manobras militares conjuntas com Israel fossem anulados.
Já a Alemanha – país que raramente critica Israel -comentou que a letal intervenção israelense contra um comboio pró-palestino é, "à primeira vista, de caráter desproporcional", segundo o porta-voz do governo, Ulrich Wilhelm. "Os governos da Alemanha sempre reconheceram o direito de defesa de Israel, mas este direito deve acontecer dentro de uma resposta proporcional", disse Wilhelm em uma entrevista coletiva.
O presidente palestino Mahmud Abbas qualificou a ação de massacre e decretou três dias de luto. "Teremos que tomar algumas decisões difíceis esta tarde", disse uma fonte do gabinete palestino, mas sem revelar quais as medidas. A Autoridade Palestina também pediu uma reunião de urgência ao Conselho de Segurança da ONU para "debater a pirataria, o crime e o massacre israelense", nas palavras do principal negociador palestino, Saeb Erakat.
Segundo vídeo divulgado por autoridades israelenses,
os tripulantes dos navios de ajuda humanitária teriam atacado antes os soldados de Israel
Por fim, o inimigo declarado de Israel, o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, denunciou o ataque do Exército israelense como "um ato desumano do regime sionista", informou a agência oficial Irna. "O ato desumano do regime sionista contra o povo palestino e o fato de impedir que a ajuda humanitária destinada à população chegasse a Gaza não é um sinal de força, e sim de fragilidade deste regime", declarou Ahmadinejad. "Tudo isto mostra que o fim deste sinistro regime fantoche está mais perto do que nunca", completou.
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu afirmou que as forças israelenses que atacaram um comboio humanitário internacional agiram para defender a própria vida. Ele também lamentou a perda de vidas humanas no ataque.