FOTOS: DIVULGAÇÃONo auge do movimento punk, nos anos 80, três amigos novaiorquinos divertiam-se ao espantar executivos de Wall Street e crianças no Central Park vestidos de malha preta e pintados de azul dos pés à cabeça. A cena desses ETs carecas e lambuzados foi ficando tão conhecida na cidade que acabou ganhando bares e teatros underground e, em pouco tempo, se transformou em concorridíssimos shows no circuito off-Broadway. Hoje o trio responde por uma marca tão famosa em todo o mundo, tanto quanto o Cirque du Soleil: atende pelo nome de Blue Man Group e está por trás do espetáculo How to be a megastar 2.0 (Como se tornar uma superestrela) – tem estréia em São Paulo no Credicard Hall, na sexta-feira 22, e depois segue para o Citibank Hall no Rio de Janeiro, no dia 13 de julho. Os três amigos que montaram essa trupe, Chris Wink, Phil Stanton e Matt Goldman, já não se sujam mais. Eles apenas administram um negócio que tem espetáculos fixos em nove cidades do mundo (Nova York, Boston, Chicago, Las Vegas, Orlando, Berlim, Oberhausen, Amsterdã e Londres) e uma megaturnê que agora chega ao Brasil. Hoje são 60 homens azuis espalhados pelo planeta, multiplicação fácil de acontecer porque os personagens criados por Wink, Stanton e Goldman têm o mesmo tamanho, olham para o público com a mesma indiferença e nem sequer falam. Em suma: comportam- se como figuras anônimas e sem individualidade.

 Qual a razão do sucesso? Pois bem, eles são excelentes tocando percussão em diversos instrumentos – e também nos mais esquisitos. Podem ser tambores dos quais explodem tintas coloridas e tubos de PVC copiados (eles assumem) daqueles usados pelo grupo mineiro Uakti. Só isso, contudo, não consegue explicar um fenômeno visto por mais de 11 milhões de espectadores. Com um roteiro inteligente e bem-humorado, How to be a megastar é um daqueles eventos multimídia que misturam teatro, mímica, circo e rock de forma supereficiente. À frente de uma banda de oito integrantes, os três azulões atuam como três palhaços atrapalhados. Mas a sua sátira e ironia têm sempre um alvo preciso: o universo do rock.

O espetáculo gira em torno de um manual imaginário que tenta ensinar como uma pessoa pode se tornar um astro pop – e todos os passos são sarcasticamente chamados de "movimentos" para serem repetidos como aulas de aeróbica. O primeiro deles é o "movimento de pélvis", que uma voz robótica explica ser uma estratégia para encobrir deficiências em relação à voz e à técnica instrumental – ou seja, é uma crítica ao excessivo exibicionismo dos líderes das bandas. No movimento 237, por exemplo, eles debocham das bandas com pretensão vanguardista. Nessa fase, a suposta banda de rock procura "levar o público numa viagem junguiana ao inconsciente coletivo, usando a sombra como metáfora do eu primitivo reprimido pela persona moderna". É um deboche que se aplica aos próprios integrantes do Blue Man Group, que vivem repetindo que a cor azul foi escolhida por acaso, mas, na verdade, foi inspirada nas estátuas pintadas de azul ultramarino pelo artista francês Yves Klein.

Eles valeram-se também de uma performance do alemão Joseph Beuys, chamada Como explicar quadros a uma lebre morta, na qual o artista ninava um coelho com o rosto besuntado de mel. No caso dos homens azuis, a maquiagem é feita de uma tinta aplicada sobre uma fina touca de plástico que fica com a aparência molhada. "Somos um outsider genérico, um peixe fora d’água, um punk anticlown", autodefine-se Chris Wink. Não dá para levar a sério essas suas palavras. Já o espetáculo, sim.